domingo, 28 de setembro de 2025

Navegar é preciso... viver também...




Os mitos e as lendas a respeito do Mediterrâneo não foram por acaso. Há ali uma beleza que é impossível ignorar. Ilha de Tarifa! Estreito de Gibraltar! De um lado o Oceano Atlântico e do outro ele. E quando o navio vai se movendo, qualquer um, até os cegos, pensam na frase clássica de Chateaubriand, que sempre me acompanha: "Aqueles que nunca navegaram não sabem o que é que se experimenta quando, do convés do navio, já não se ve mais do que a face austera do abismo" 

E aqui, em Tanger,  principalmente aqui de cima do Café Hafa, mesmo quem não sabe nadar, tem impulsos de jogar-se em suas águas e seguir... e partir... 

E o vento,? Bem, como diz o titulo do livro de Elsa Nagel, é enlouquecedor...



Mas, o Marrocos, com seus tradicionais "perigos" e com seus 30% de desempregados, já não é o dos anos 80 e muito menos o dos anos 50 quando Elias Canetti o visitou.... Tudo por aqui (menos as toilettes públicas, claro), parece contaminado pela "pós modernidade" a ponto de, até a tal  juventude Z, estar tocando fogo por aí e abalando o sono do rei e de seus tradicionais puxa-sacos... E claro, as vozes impressionantes vindas dos minaretes, os odores do "kif", das especiarias e das ervas, os picos elevados do Atlas e a leveza dos gatos também resistiram bravamente ao tempo... O súbito bramido de um camelo diante de um bazar e os Gatos! Muitos gatos nos becos da medina, nas janelas e ruelas de Tanger e de Chefchaouen...  e lá nas de Marrakeche... então... (Será que comemoram por aqui o Dia dos Gatos, como o fazem lá no Nepal, no Dia dos Cachorros?)



domingo, 21 de setembro de 2025

Sevilla... 40 graus


Cansado de ser roubado em Lisboa, é sempre recomendável vir para a Espanha. O roubo é o mesmo, mas dá a ilusão de ser diferente. As viagens, que no passado eram uma maravilha, agora se resumem a essa multidão de idiotas, a esse rebanho de babacas se acotovelando na porta dos tais museus... e das tais igrejas... e comendo.., comendo...
Se não fosse a brisa fresca do Quadalquivir, a vida seria impossivel por aqui, nestes dias. Mas Sevilla é sempre Sevilla. Parafraseando aquele Ministro, aconteça o que acontecer, teremos sempre Sevilla. Com seus Patas Negras dependurados por todos os lados e com os ossos de Colombo sendo cultuados ali na Catedral. Carne de porco por todos os lados. Teria sido por isso que os judeus "fugiram" daqui horrorizados... Triana! Um café ao lado do beco da inquisição dos ciganos... [Entre plumas y campanas la luz viene y se arridilla viendo pasar a Triana...]
Por falar em catedral, uma igreja que não tem uma cigana mendigando em suas escadarias e escrutinando o mundo com seus olhos mouros, não é confiável e nem sagrada o suficiente... Agora, aqui entre nós, uma cigana usando óculos, é o fim da picada, fim da cultura e das fantasias...  Sevilla 40 graus! Se perde 50% do tempo peocurando sombras, bebendo agua e mijando... Pero, no pasa nada... Y la nave va...


EM TEMPO: Ali ao lado das águas do Guadalquivir, a famosa e indecente Torre do Ouro. Onde, todo o ouro que vinha rapinado lá das américas, ficava inicialmente depositado, à espera de ser encaminhado para a Capela de lá Maria Santissima de la Estrella, ali na calle Jacinto. Ou para as de Toledo...
E, também por aqui, no noticiário e no blábláblá de todos os dias, a expressão de um imaginário fundamentado no horror do Eclesiastes...
Finalmente, a criação do Estado Palestino.





quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Acabam de mandar o Bolsonaro e sua troupe para o xilindró...



"Só o sofisma tem vitalidade, porque faz crer 

na verdade, mas não a revela..."

Vargas Vila




Depois do voto fatal da Ministra, os mais entusiasmados estão até soltando fogos, como se a partir de agora as divindades lançassem (pelo menos) uma chispa de lógica e de felicidade sobre o mundo... já, os do outro bando, afetados e feridos de morte, vão cabisbaixos... como se a vida se lhes estivesse escapando... Dos dois lados (aqui entre nós), apenas gritos que saem das sombras e gestos de impotência...

Do prédio em frente se ouve a Ave Maria de Gounod e em seguida o Bolero de Ravel. Qual seria o pedigree do músico? E os réus? Onde estariam e o que estariam pensando? Quase todos com mais de sessenta anos... apodrecerão na prisão? Uma cadeia (impossível não repetir), é sempre um horror! O signo máximo da desesperança, da confusão e do fracasso da humanidade... E a história? Um  lodaçal de gente ordinária que vai se revezando atrás das grades.., um pântano de compadres promíscuos, de carcereiros, prisioneiros e de condenados...  

E, pior, é que viemos assim há séculos... Com crimes ora atribuídos a uns, ora aos outros... E com as cadeias que já viram passar por elas gente do zodíaco inteiro, de Aries à Peixes. Uns maldizendo e condenando aos outros, e sempre por delitos parecidos, por  bagatelas, palavras, desesperos, ilusões, vinganças... Mas, não, não adianta espernear, já está demonstrado que o cão volta sempre ao lugar do vomito! Que mediocridade, que pobreza e que miséria!

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EM TEMPO:

Independente da turma de tua predileção, é impossível não admitir que  o blábláblá do Fux foi da máxima importância. Não necessariamente para o 'bem dos condenados', mas para explicitar o surrealismo e o componente astrológico em que estão baseados os fundamentos tanto das 'minutas' dos que planejavam o golpe, como das 'teses' dos ilustres intérpretes e julgadores do tal golpe. Um horror! Nos dois lados, data vênia, um primarismo de assustar. Por isso, mon senblable e mon frère, tenha sempre em mente: se um dos 18 mil juízes espalhados pelo país te acusar de haver furtado a estrela matutina ou a estátua do Cristo Redentor, não perca tempo ruminando sobre a Constituição, trate imediatamente de fugir..! De cair fora! De tomar um chá de sumiço! (a propósito: ao ouvir o lero lero esclarecedor do Fux, como não pensar (e com pesar), na trajetória e na situação dos 800 mil presidiários..?), e na famosa máxima de Schopenhauer de que no teatro cotidiano, um faz o papel de príncipe, outro o de ministro, outro o de lacaio ou o de soldado ou o de general, e assim sucessivamente. Mas que tais diferenças só existem exteriormente, já que, tirando a fantasia, na essência de cada um desses personagens, vamos encontrar sempre o mesmo e pobre velhaco, cheio de misérias e de preocupações...???

Caralho! E quando é que se passará a exigir de todos os agentes do judiciário (ao pessoal da mídia e da igreja, então, nem se fala), que apresentem comprovantes de terem passado, pelo menos, uns cinco ou seis anos por um divã? Acreditem: a psicanálise (depois que esclareceu  o que é a transferência e a contra-transferência) é imprescindível, tanto antes das batinas, como antes das manchetes, das fardas e das capas pretas!









Mas... e Paris? Paris, como Katmandu, é sempre uma festa...

 
















sábado, 6 de setembro de 2025

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Enquanto isso...












Terça-feira... O dia amanheceu meio misterioso com os saltimbancos de sempre armando as lonas do circo lá ao redor do Supremo Tribunal Federal...


O surrealismo é tal, que "Se me acusassem de ter furtado as torres de Notre-Dame, eu trataria logo de me esconder..."

Achille de Harlay





A estagiária, quase excitada, liga para a mãe, dizendo que, nesta semana, estará cobrindo o Julgamento do Século! Que, pela primeira vez, desde Dom João VI, estarão julgando um ex-presidente da república, vários generais e, claro, alguns lacaios...

A polícia, com seus cachorros, cassetetes, celulares e suas ânsias por exercer o monopólio da violência (que o Estado lhe garante), se movimenta pelas beiradas da delgada arquitetura de Lucio Costa e do Niemayer... e aos fundos, bem em frente ao pombal, construído pelo Jânio Quadros, o Oráculo de Delfos... Há saltimbancos vindos de todo o país, e não faltam pedagogos: Em cada esquina um advogadozinho, um juristazinho, uma influencer, um professorzinho, um ou outro seminarista, um ou outro astrólogo que fazem suas profecias, dão explicações e destrincham os liames e os labirintos das leis e do julgamento. Um coroinha até cita a Pascal: "Não conseguindo que a justiça fosse forte, fez-se que a força seja justa..."

Mas... e a dosimetria das penas? E os embargos infringentes? E as condições das cadeias? E a pena perpétua? E se o preso ir a óbito, atrás das grades? E se der tudo errado? E se o Trump (com uma pata na Venezuela e outra aqui) mandar soltar todo mundo? E se Godot aparecer inesperadamente ali pelos lados do Itamarati, anunciando o Fim dos Tempos e a ressureição dos mortos???

Será assim e assado. Primeiro isto e depois aquilo. Os protocolos. As regras, a democracia. As artimanhas e os famosos acordãos... Gente que trabalha ali há 40 anos, que ficou milionária vendendo algemas e que conhece as trapaças em detalhes... e até o latim e a semiótica daquele blábláblá interminável, juram que faça-se o que se fizer, é impossível evitar as misérias do Processo Penal... Misérias que, inclusive, os que estão sendo julgados conhecem muito bem, e cujo conhecimento é terapêutico, os faz aparecerem no picadeiro sem grandes ansiedades e até com uma certa soberba. Conhecem o script, o rito, o início, o meio e o fim. Sabem que esse é o 'ganha pão' tanto dos juízes, como dos promotores, dos advogados, dos carcereiros, dos jornalistas e de muitos outros atores (visíveis e invisíveis) envolvidos nesse espetáculo, e que portanto, como o "espetáculo é a droga dos escravos", tem que continuar, já que todos, como você e eu, precisam fazer seu papel nele, se quiserem comprar o vinho e sobreviver. Já que, no final das contas, ser condenado ou não, dá no mesmo... Prestem atenção como os presídios e as cadeias estão cheias de gente de todos os signos, partidos e seitas... E que o que importa, realmente, é saber confundir o Código Pessoal com o Código Penal; é salvar um ou outro cânone moral, as aparências e, claro, contentar a parte faminta da turba... sempre sabendo, evidentemente, que amanhã ou depois de amanhã, tudo virará cinzas sem que ninguém, sequer, tome conhecimento... 

E por falar em Misérias do Processo Penal, nesta manhã quase misteriosa, até o velhinho que vende souvenires  na entrada do Tribunal exibia o livreto do conhecido jurista italiano Francesco Carnelutti: As misérias do Processo Penal... Conhecem?  jurista que foi figura famosa na monarquia italiana, que fundou a União dos juristas italianos católicos e que inspirou o Direito Romano (e por tabela) também o nosso. É dele este parágrafo quase metafísico e descaradamente, religioso: [As pessoas crêem que o processo penal termina com a condenação, o que não é verdade. As pessoas pensam que a pena termina com a saída do cárcere, o que tampouco é verdade. As pessoas pensam que a prisão perpétua é a única pena que se estende por toda a vida: eis aí outra ilusão. Senão sempre, nove em cada dez vezes a pena jamais termina. Quem pecou está perdido. Cristo perdoa, os homens não...]











    Fornicação - O que se poderia esperar de um Estado que se chama SANTA CATARINA e de uma cidade conhecida por SÃO JOSÉ???

     






    Meio em sério, meio em burla, os fornicadores de plantão aqui da sede republicana, não param de comentar a tal "proibição" lá num condomínio na cidade de São José, na Grande Florianópolis, dirigida aos moradores para que não façam sexo depois da dez horas da noite. Ou, para que, se o fizerem, que não emitam nenhum grunhido durante a fornicação...
    Ora! Será que esqueceram que o preço sempre está associado à intensidade dos gemidos?
    Que tal?
    Até os mendigos estão apostando que a autoria de tal proibição é do sexo feminino. Preconceito?... E ser for, o que teria ela contra os gemidos? Seria contra o barulho, contra o gozo ou contra o fingimento e a pantomima que o ato exige?
    O que é bizarro é! Mas eu até entendo... Pois essa história de trepar à noite, depois de uma cerveja vagabunda, sempre no escuro e em seguida correr para a ducha e sentir-se culpado (a), é algo tipicamente do operariado, do populacho e dos escravos pós modernos... Nós, os novo ricos, os vira latas, os que passamos a vida inteira tentando ser o  o que não somos e o que nunca seremos, gostamos, nem é tanto de sexo, mas da lascívia... Ah! a lascívia! A luxúria! A voluptuosidade! O teatro genital! Nossa tara é fazer sexo às claras, durante o dia, com o sol tremulando nas cortinas e com as araras em cio dando rasantes por sobre os jardins do Burle Marx...  ouvindo os ruídos do Progresso e da cidade; as resoluções do Banco Central e os índices da Bolsa de Valores; os tiroteios, o apito dos trens, o barulho das xícaras, o cheiro dos ovos mal passados; das máquinas de lavar, o badalar dos sinos nos campanários, as mensagens do mecânico celestial chegando pelo WhatsApp, os gritos dos garis dependurados naqueles caminhões infames, enfim, na hora em que toda a psicopatia do mundo está em ação...  
    E já que esse exotismo vem de um estado chamado Santa Catarina e de uma cidade conhecida por São José, não se surpreendam se o tal condomínio (bem como a síndica) também tenham o nome de santidades... É a fé... Influencias do mundo celestial... além de um distúrbio hormonal...