Ao sair com meu cachorro neste domingo de sol fomos surpreendidos, a menos de cem metros de minha casa, por um grupo de jovens que armava um altar em baixo de uma árvore. Que bizarro! Será que vão levantar mais uma igreja aí? Seriam os Filhos de Jeová? - Me perguntou o cachorro enquanto mijava no pneu de uma bicicleta - . Ou os Hare Krishnas? Ou os Crentes do Sétimo dia? Ou os Mórmons? Ou os Adventistas? Ou os Luteranos da Cochinchina? Ou os Maometanos? Ou os Espíritas? Ou os da Nova Jeruzalem? Ou os Neo Petencostais? Ou os da Legião da Boa Vontade? Ou os Filhos de Xangô? Ou os fiéis do Vale do Amanhecer? Ou os do Templo de Salomon? Mas há um japonês entre eles! me alerta meu cachorro. Seriam os da Seicho-No-Iê? Ou os do Templo Messiânico Universal? Mas podem ser os da igreja ortodoxa grega? Mas as moças que estavam entre o grupo pareciam aquelas que acompanham o Henry Cristo. Seria o Henry Christus? Aquele que jura ser a reencarnação de Cristo? Ou seriam os fundadores da Cova de Jacó? Os da Ananda Marga? Um grupo remanescente de OSHO? Ou o pessoal da Igreja da Cienciologia? Ou os da Escola do Quarto Caminho? Ou um grupo de Maçons? Ou os da seita Missão da Luz Divina? Ou os da Nova Era? Ou, os Meninos de Deus? Ou a turma do Sai Baba? Os ufonistas? Ou de alguma Seita Satânica? Ou, talvez, os da seita de gnósticos que habitam os cafundós das montanhas de Goiás Velho? Ou seriam os pupilos da Madame Blavatsky?, aquela que gostava de recomendar: "Olhem as hostes das almas. Vejam como elas pairam sobre o mar tempestuoso da vida humana"...
Instintivamente quis dar meia volta, mas meu cachorro, até mais curioso do que eu, me arrastou naquela direção e, apesar de haver umas 300 seitas na cidade, concluiu: são Católicos Romanos.
Passeamos e damos voltas por uns vinte minutos pela solidão da cidade, cruzando aqui e ali com outros sujeitos também com cachorros e quando voltamos, aquele altar já estava cercado por uma multidão que rezava em voz alta e em tom de súplica. Reconheci lá quase todas as velhinhas do entorno de mãos dadas com seus tutores ou amparadas por seus filhos. Na face uma expressão melancólico/apocalíptica.
Meu cachorro levantou as orelhas e prestou atenção nas rezas e nas cantorias. Curiosamente não pediam pelos 150 milhões da Mega Sena, nem por pimentões sem inseticidas, nem pela caída do Bolsonaro, nem pela santificação do Lula... Imploravam por perdão e por uma vaga no paraíso. Inacreditável! Meu cachorro olhou-me fixamente nos olhos como se exigisse uma explicação ou como se me perguntasse: que porra de pecado essa pobre gente pode ter cometido? Pedem perdão a quem e para quê? De onde lhes advém essa culpabilidade?
Permanecemos próximos ao grupo por uns minutos até que um dos organizadores nos convidou gentilmente a participar daquela histeria coletiva. Consultei meu cachorro e ele, mais herege do que Pilatos, moveu a cabeça negativamente, sugerindo-me que não deveríamos atravessar os limites liturgicos daquele evento.
Voltamos para casa. E eu, que pensava estar definitivamente aposentado, me surpreendi em minha mesa de estudos com a obrigação ética de reler vagarosa e atentamente o Volume 1. do Karl Jaspers que trata especificamente de Psicopatologia Geral... E la nave va...
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