Ao ver-me transpirando numa fila de banco para pagar impostos, o mendigo da rodoviária (já lhes falei dele várias vezes) aproximou-se rindo:
- Pensei que havias abandonado esta aldeia de farsantes...
Em seguida inclinou a cabeça para ver o documento que eu segurava na mão e ao identificá-lo explodiu numa gargalhada:
- IPVA, cara? Que merda e que idiotice é essa???
Passei-lhe o documento e ele, com expressão de nojo foi lendo:
- Seguro obrigatório... Licenciamento anual... IPVA primeira cota, segunda cota, terceira cota... Multas por atraso... multas por excesso de velocidade, multa por ter tomado biotônico antes de dirigir...
Gargalhou novamente, devolveu-me o DAR e falou em bom tom:
- Cambada de ovelhas e de idiotas!!! Além de pagarem mil vezes mais do que valem essas latarias velhas, ainda devem pagar por tudo isso? E mais, todos os anos, aos proxenetas do Estado. Não é possível! Isso é modernidade? Isso é liberdade? Se fosse uma vez na vida, ainda, ainda...
Bateu no vidro do balcão e falou para o caixa:
- Guarda o lugar desse "cidadão" aí na fila que vou levá-lo lá na calçada por um minuto.
No meio fio da plataforma superior apontou para a Esplanada dos Ministérios entulhada de automóveis de todos os tamanhos e cores e praguejou com voz propositalmente esganiçada:
- Que tal? Veja que belo espetáculo de desdita! Já viste tantos imbecis juntos, encolerizados, estressados, buzinando, a bunda suada, os olhos cravados no relógio, nos semáforos, nos congestionamentos intermináveis??? Que idiotice é essa? E observe que quanto maior a idiotice maior o carro!!! Diga-me uma coisa doutor: essa anomalia é genética ou cultural? E saber que poderia estar todo mundo caminhando tranquilo por aí e à sombra, coçando o saco, cheirando rapé, andando de bicicleta, ou de carruagem...
Voltando ao banco, depois de dar um tchau ao caixa riu cinicamente em minha direção e recitou esta frase de Aristóteles:
[buena suerte? Buena suerte é quando a flecha mata ao companheiro que está junto a nós].
[buena suerte? Buena suerte é quando a flecha mata ao companheiro que está junto a nós].
Esses engarrafamentos em Brasília, dia após dia, é algo totalmente desumano, cruel, pérfido, mas as verbas para a construção de um metrô eficiente e significativo em termos de abrangência são desviadas impunemente pelos calhordas...
ResponderExcluirEste mendigo genial devia ser nosso guru.
ResponderExcluiruma vez estava na praça dos 3 poderes e vi um homem gritando um discurso inflamado entremeado com trechos de artigos da constituição ...
ResponderExcluiruma vez li um artigo num jornal que dizia que pobreza gera loucura....não será que estamos todos meio loucos já que a pobreza tem vários níveis, que não implica só no aspecto material..
talvez os mendigos sejam os verdadeiros artistas, a voz da real liberdade de expressão...
deixa de ser retardado sergio
ResponderExcluirretardado é a puta que te pariu, seu anonimo de merda...........
ResponderExcluiraUHAUhuaUH
ResponderExcluirCalma pessoal!
A verdade também é mais embaixo e mais inesperada.. Porque todos os problemas capitais nos irritam tanto, quando na verdade o máximo que podemos chegar é a morte, quando as razões de estarmos aqui são desconhecidas e quando as razões de estarmos na pior, ou morrermos, também. Ou seja, acredito mais na natureza que nos criou do que no que o homem cria, cego por suas purulências, já que na natureza impera o equilíbrio, por mais que alguns morram, outros interfiram destruindo e todo o ambiente seja devastado, no fundo o equilíbrio e as razões maiores prevalecem.
Pra vc andre...
ResponderExcluirhttp://www.economist.com/node/18741749?story_id=18741749