sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ave, Cesár


Nós que ficamos boquiabertos com o vazio, a pobreza e a capacidade de não dizer nada que o Ministro da Fazenda e os senadores exibiram durante dez horas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), ficamos mais boquiabertos ainda no dia seguinte, diante das interpretações políticas, televisivas e acadêmicas de todo aquele teatro genuinamente latino-americano.

Quem nunca entendeu muito bem o que sempre se quis dizer quando se insistia que o povo brasileiro era um povo cordial, teve ali, naquele horror de lengalengas, de submissão disfarçada de educação, de postulados básicos de contabilidade, de turvação da água para dar impressão de profundidade, de boquinhas, de trejeitos, coriza, delicadezas e ausência de libido, uma exibição sem precedentes dessa fraqueza cultural e desse transtorno de caráter que nos atormenta.

Nada, não houve absolutamente nada naquelas dez horas que nos desse a mais mínima chispa de esperança de que nos próximos mil anos chegaremos a ser um povo mais verdadeiro e mais respeitável. E o pior, é que é bem provável que a maioria dos senadores que lá estava, por uma questão cronológica, enquanto fazia aquela mise-en-scene melancólica, tinha conhecimento de que mesmo os gladiadores que lá no circo romano gritavam o: Ave, César, morituri te salutant, não eram heróis, mas apenas escravos vis e bestas valorosas.


Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. na impossibilidade de eliminarmos o ridículo burlesco natural dessas comissões e de seu povo cordial, impomo-lhes a responderem por suas formas grotescas e disfarçadas.
    1. é proibido apoderar-se a título privado o que fora roubado e pilhado;
    2. ninguém deverá debochar por prazer pessoal das semelhanças entre a função de polícia e a função de bandido.
    após isso, será que conseguiremos gozar de uma calma entre as abelhas, as vespas e as doçuras de nosso jardim?

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