Ontem pela tarde, no auge dos trinta e três graus, um senhor barbudo, maltrapilho, com uns 80 anos, ia de um lado para outro na plataforma superior da rodoviária, fazendo breves paradas para gritar: Maldição eterna para o Congresso Nacional! Maldição eterna para o Congresso Nacional! Cumprimentei-o com curiosidade. Ele segurou-me pelo braço com simpatia e declamou num só fôlego: Pareço ser um pobre velho, não é? Pois saiba que Ibsen apaixonou-se por uma mocinha aos 76 anos; que Goethe escreveu seu segundo Fausto aos 82; que Catão casou-se e que teve um filho aos oitenta; que um velho da Ceilândia está tendo uma terceira dentição, que Verdi compôs seu Falstaff e que Ticiano pintou sua Apresentação ao templo já com mais idade do que a minha. Bateu-me gentilmente nos ombros, deu meia volta, gritou novamente: Maldição eterna para o Congresso Nacional e desapareceu.
Ezio Flavio Bazzo