"... Oh! O amor! Eu ouvira o amor sexagenário, o amor doloroso, o amor liliput desse menage de crianças! Todos tinham chegado ao mesmo fim tragico, hontem creaturas dignas, hoje com as mãos vermelhas de sangue, amanhã condemnados por um juiz indiferente (...) Que estranha psychologia a dessas flores magnificas do jardim do crime! Que poderoso transformador o amor! bem dizia Tennyson, ao evocá-lo: 'Thou madest life, um man and brute, thou madest death'... Eu começara a minha visita á beira do desespero, na purpura de uma moita de lyrios vermelhos (...) Com os corações em sangue, vira uma collecção de assassinos, desde um velho lamentável até uma criança honesta, postos fóra da sociedade pelo descario, pela loucura que a paixão sopra no mundo... (...) O sol é esmagador! Pesa como chumbo. Todos esses semblantes têm qualquer cousa de revoltado e de tímido, de desafio e medo. Percebe-se o terror das pessoas importantes e o desejo secreto de apedrejá-las, essa mistura antagonica que faz o respeito da ralé... (...) A musa da cidade, a musa constante e anonyma, que tange todas as cordas da vida e é como a alma da multidão, a musa triste e vagabunda, é livre, é pobre, é humilde. E por isso todos lhe soffrem a ingenua fascinação, por isso a voz de um vagabundo, nas noites de luar, enche de lágrimas os olhos dos mais frios, por isso ninguem ha que não a ame - flôr de ideal nascida nas sargetas, sonho perpetuo da cidade á margem da poesia riso e lagrima, poesia da encantadora alma das ruas...!"
João do Rio
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