terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Arregacem as calças e levantem as saias que vamos atravessar o inferno...
As comunidades periféricas ao Plano Piloto já estão ansiosas com o “saidão” que normalmente acontece do Natal até o Ano Novo. Pode até ser que alguns dos prisioneiros beneficiados pretenda realmente tomar um champagne ou ir à missa do galo de braços dados com a “mamãezinha” e com os "amigos", mas a grande maioria quer mesmo é aproveitar para lubrificar as armas, acertar contas ou promover um duelo com este ou com aquele ex-camarada. Quem tem cu normalmente nem gosta de permanecer nesses vilarejos ensanguentados e mal assombrados em tais dias e sempre arruma um pretexto para mandar-se para outro lugar do globo. Meu vizinho de fundos – diz um senhor mais pessimista que Schopenhauer - receberá neste Natal dois irmãos homicidas; a mulher da esquina receberá o filho que já mandou uns cinco para o cemitério; naquele barraco imundo ali vivem, além de seis guapecas, umas doze pessoas e pelo menos três residentes da Papuda virão visitá-los nestes feriados, todos bandidos reincidentes que, com certeza irão escalpelar o filho da vizinha da frente que por sua vez deu duas facadas no neto da vovó que mora ao lado etc.,etc.,etc. Enfim, com esses ilustres visitantes, isto aqui fica mais parecido ainda a uma colônia penal sem muros e sem carcereiros... E “acertar contas” por aqui não significa somar e nem multiplicar, mas sempre subtrair. Ninguém diz, mas essas “cidades satélites” vivem há decadas em permanente guerra civil. No “saidão” do ano passado isto aqui parecia um filme de bang-bang, houve um tiroteio que durou a madrugada toda, era bala pra tudo o que era lado. Mataram uns 4. Como quem mata cachorro. O mais surrealista disso tudo é que os parentes até gostam de ver os "seus" eliminados. De manhã está lá o cadáver todo desengonçado e caído sobre si mesmo, no rosto aquela expressão de horror e de solidão e ao lado um balde de tinta vermelha derramada. Uma mulher gritando apenas por gritar e a polícia palitando os dentes. Na verdade a morte aqui já nem assusta mais. O sujeito recebe a bala e nem sente. É o sangue descendo pelo corpo que dá a senha de que já era! O buraco é quase invisível na entrada, o rombo mesmo é na saída. E ninguém está nem aí! É risível ouvir as pessoas de terno e gravata falando em Direitos Humanos, falando em Desenvolvimento Social, em outras bobagens “humanistas”. Aqui não há lugar para filosofia e nem para literatura. Cada um desses barracos é um pequeno calabouço e uma célula do inferno. Olhe para os lados. Todo mundo que você está vendo por aí já foi simbólica ou literalmente baleado. Já morreu há muito tempo e, sabe-se lá por que, insiste em não cair. Para essa gente, a vida, desde seus alicerces até seus enfeites é de uma crueldade sem fim. Os políticos, a polícia e mesmo deus não passariam ilesos pelo Tribunal de Haia...
- Ah, mas pelo menos vocês já podem comprar geladeira, fogão, tanque de lavar!!! Tudo a preços reduzidos...
- Ora! Essas confrarias de vivaldinos bem que poderiam enfiar essas porcarias no rabo...
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Eu não só degluti como saboreei. Bravo, bravíssimo!!
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluir(e ansioso pelo novo livro)
Henrique, eu li o novo livro. Está mais maldito que todos os outros (ehehehe).
ResponderExcluirJá saiu?!! Eu moro em terras distantes e fico por fora! Em janeiro passo por essas bandas e adquiro e meu exemplar. Espero por um novo livre já ha algum tempo. Obrigado Helena.
ResponderExcluirEu delirei...
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