Os desdobramentos a respeito do "affair grampos" têm agravado ainda mais a credibilidade e o conceito geral sobre os homens públicos. Depois do bafafá, todos declararam, curiosamente, ter feito uma "varredura" em seus aposentos e em seus gabinetes, passado a falar em "códigos" etc., e não se ouviu de nenhum deles o elementar, a frase óbvia que o populacho tanto esperava: a mim podem grampear o quanto quiserem, pois não tenho nada a esconder, sou um homem público.
A propósito, esses homens que tanto falam em transparência, o que camuflam, e de quem? Quê segredos um funcionário público - seja do escalão que for - tem a ocultar e a dissimular? Quê assunto e quê idéias precisam ser mantidos em sigilo? Por mais tapado que alguém possa ser tem a resposta na ponta da língua. Mas isto também passará. É apenas mais uma bobagem efêmera que tem servido, entre outra coisas, para lembrar-nos de duas características pouco conscientes de nossa personalidade: somos muito mais paranóides do que pensamos e temos -como insistia Nelson Rodrigues - um complexo de vira-latas.
Ezio Flavio Bazzo
Ezio Flavio Bazzo
há um antigo pensamento de nômades árabes pré-islâmicos que diz o seguinte: a transparência do caráter só é revelada entre um defeito perdido e outro a ser adquirido. assim toda vez que ouço esses famigerados homens públicos, mais me convenço, de que neles não há esse tipo de "entre". hábeis mestres do ilusionismo, melhores que filósofos! enquanto olhamos para o findar de uma besteira, outra imediatamente emerge. não dão tempo. transformam o efêmero em eterno. ao mesmo tempo em que, com uma mão, viram latas, com a outra, rasgam sacos de lixo, e ainda, com habilidade malabares, chafurdando em lama ainda conseguem chutar lixeiras para todos os lados. é até uma penas que, com tais habilidades, eles não estejam tentando nos arrancar algumas moedas nos semáforos.
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