Aproveitando a obsessão dos candidatos em prometer emprego aos eleitores, é importante lembrar que tão ou até mais grave que o desemprego em nosso país é o acosso moral no trabalho, sobre o qual nenhum dos ilustres postulantes tem dado uma única palavra. O acosso moral, um tema recente que vem sendo tratado com rigor pelos organismos internacionais do trabalho, se refere ao abuso de poder, à pressão, à perseguição, à desqualificação, ao amedrontamento e às ameaças que os trabalhadores sofrem no ambiente de trabalho, tanto no âmbito dos serviços públicos e das universidades como no das empresas privadas, problema que tem causado diversas doenças psicossomáticas nas vítimas e inclusive suicídios.
A revista nº 43 da OIT, tratando dessa questão, menciona o livro recentemente publicado no Canadá, intitulado Un collègue veut votre peau (Um colega quer tua cabeça), onde são descritos três tipos desses agressores:
1. A besta — Uma pessoa brutal e alheia a toda redenção, que desde a infância desfruta destruindo a dignidade dos demais (elege objetivos fáceis, pessoas emocionalmente frágeis e que não podem permitir-se deixar o trabalho);
2. O político — Um empregado ambicioso que acossa um companheiro e se apropria das idéias dele, com o fim de conseguir uma ascensão ou ser reconhecido diante da direção (acossa os funcionários que considera rivais e que deseja eliminar);
3. O impostor — Um empregado incompetente que oculta seus erros difamando os outros (desacredita seus antigos companheiros para proteger-se). No Brasil, onde apesar do blablablá estéril dos administradores, não existe critério nenhum para a ocupação de cargos de chefia e onde quase 90% dos funcionários estão desviados de função, esse tipo de conflito, tanto entre chefes como entre chefes e subalternos e entre os funcionários em geral, tem transformado os ambientes de trabalho em pequenos focos de neurose e de destruição mútua, comprometendo, além da saúde e da realização pessoal, os próprios serviços. O silêncio, a negligência e quase sempre a participação ativa dos próprios setores de recursos humanos nessa patologia a têm tornado cada vez mais grave e cada vez mais fora de controle.
Por isso, seria importante se os candidatos, no meio de tanto palavreado inútil, conseguissem lançar o olhar para bem mais longe quando se referem ao emprego, pois o problema não está apenas no desemprego, mas também no emprego onde o sujeito, em troca de uma remuneração miserável, terá que se submeter a condições irracionais e destrutivas. Recentemente, em seu livro Mal-estar no trabalho: acosso moral; separação entre o real e o fictício, a psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen propôs que ''os governos estabeleçam programas de prevenção frente a esse problema, que, na realidade, não constitui uma debilidade apenas pessoal, mas uma enfermidade coletiva''. Caso contrário, seria até melhor que as pessoas. parafraseando Rimbaud, gritassem nos comícios a esses oportunistas: Trabalhar? Jamais, jamais. Nós estamos em greve!
Ezio Flavio Bazzo
ter que trabalhar já é mesmo um acosso. trabalhar faz mal à saúde física e mental. acidentes no trabalho, doenças ocupacionais, depressão, alcoolismo e loucura. enquanto não se esquece o dever de obediência e daí ter um emprego, é incrível que o espaço de trabalho se tranforme em uma dimensão predatória. assim como os favelados e outros esquecidos se matam uns aos outros, os trabalhadores sutilizam tal situação. do sentimento de classe passa-se ao que os chineses chamam de "xíao li cang dao", uma adaga embainhada em um sorriso.
ResponderExcluirPrezado Ezio, conheço muito bem sobre esse tema, pois já estou há 20 anos sob assédio moral, que no meu caso eu denomino de perseguição política. Durante esses vinte anos eu me certifiquei de que: não existe justiça no Brasil; que (quase) todos têm seu preço e se vendem (ou me venderam); e que o poder financeiro aliado ao político ditam, manipulam e ordenam o país. Há vinte anos vivo em exílio dentro do meu próprio país, sendo monitorada constantemente e isolada de tudo e todos, marginalizada. Entristece-me muito saber que esse processo foi disparado na época em que eu estava requisitada em Brasília, mais precisamente na Presidência da República, e deu-se por eu ter me recusado a participar de um esquema "escuso" em uma licitação. Acabaram com a minha família, isolaram-me socialmente, estagnaram-me profissionalmente, faliram-me por meio de golpes financeiros através dos próprios agentes do judiciário, e agora observam o meu desfalecimento e levantam bandeiras de triunfo e glória por terem vencido uma "batalha"... Colocam uma manada de elefantes para pisarem em uma formiga e se acham gloriosos... Gritam pelos corredores da Petrobras: - "Adoro chutar cachorro morto", entre risos e gargalhadas... Não consigo mais me indignar, sentir raiva, nada... Apenas os desprezo... Parei de tentar analisar se são psicopatas, neuróticos ou apenas assassinos... Na realidade são apenas humanos, e como diz Albino Forjaz de Sampaio, se são capazes de vender suas próprias mães, imagina o resto... Burra fui eu em não ter aceitado os milhões que me ofereceram na época, afinal eu só precisava assinar, mais nada...
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