As enchentes, os desmoronamentos, os naufrágios, as doenças endêmicas, os acidentes de trabalho em nosso país têm tido sempre o mesmo enredo e a mesma manha. Todo mundo fica repentinamente surpreso. O pranto das vítimas é estampado perversamente na mídia. Poupa-se a corja negligente. Acendem-se velas. Recolhem-se toneladas de alimentos e milhares de cobertores. Os políticos vão à tribuna e abusam das interjeições, liberam verbas, vão fazer discursos ao lado dos caixões, criam leis complementares e tudo fica como está. Sem abusar dos gregos e nem da Odisséia, esta nação se parece cada vez mais ao Tártaro e nós, ao desgraçado Sísifo, condenados inútil e eternamente a empurrar nossa pedra ladeira acima. E tem mais: agora que descobriram que as nuvens e as chuvas que despencam em fúria sobre nossas cidades se formam lá na selva amazônica, serão capazes de usar as inundações e os sinistros como argumento para todo tipo de rapinagem e de destruição da floresta.
Ezio Flavio Bazzo