MuRRo das Lamentações: O Bob Dylan de Eduardo Bueno...

[...É impossível encontrar um homem absolutamente notável que não seja cabotino. E assim são os outros, a grande espécie humana. No dia em que desejar ver o cabotinismo inconsciente vá com uma máquina fotográfica para a rua. Verá como terá a rua inteira com vontade de sair fotografada. Individualmente cada uma das pessoas que aparece julga ser o tipo saliente e o foco das atenções. Se desejar particularizar essa observação geral, estude diversas classes sociais, vá indo de cima para baixo e encontrarás cabotinos desde os políticos dominantes até os copeiros.. Cabotinos posando com descaro a sua importância, e subindo e ganhando mais a vida exatamente por isso. (...) Foi o orgulho que fez o homem firmar-se nas patas traseiras e apoiar-se a um pedaço de árvore, ao descer da árvore. O orgulho transformou-se em vaidade como o pedaço de árvore em bengala. A vaidade, por falta de argumentos fortes em que se firmar, fez-se exibicionismo: o exibicionismo à outrance é o cabotinismo geral. (...) A vida é como uma batota lobrega. Os grandes banqueiros representam a fome, a miséria, a desgraça de uma porção de criaturas roubadas em honra das transações comerciais. Os reis das industrias afirmam a escravidão branca e cegam o mundo com o dinheiro amassado no suor de exércitos colossais de desgraçados. Os políticos, nenhum deles vence verdadeiramente se não sendo ingrato e hipócrita., velhaco e falso. (...) O homem moderno não tem nem pessimismo nem otimismo, porque não tem alma e o Brasil é um país de revoltados em que todos, entretanto, são chamados de chefes. (...)Aqui os homens são doutores ou coronéis, mas todos, irrevogavelmente, são chefes.Vivemos numa época de chefes! De quê? Ninguém sabe, mas são. Vivemos numa verdadeira parada, com a alma no bolso e o risinho da cavação nos lábios (...) Megalomania inconsciente? Costume? Em todo caso falta de equilíbrio social e sobriedade... ] João do Rio

- De trinta mendigos a quem dei esmola hão de nascer noventa patifes para me apedrejar.

- Por dinheiro tudo se compra. As bênçãos das santas e o crânio dos heróis, a camisa de dormir da tua noiva e o rosário do teu confessor. Ciganas e écuyères, saltimbancos e mendigos, fidalgos e aguardente, trapeiros e sacerdotes, coveiros e apóstolos, santos e famintos, sultanas e cadelas, bobos e cortesãs, escravos e libertos, tudo isto é da sua corte. O próprio Deus, o próprio céu rende-se, quando se lhe mostra um punhado de ouro.

- Ah, eu nunca poderei vir a ser um Nero! E Nero que incendiou Roma não é bem maior do que São Francisco de Assis? Incendiar uma cidade é bom, mas incendiar o mundo? Incendiar o mundo, ó gentes? Que grande obra para um caricaturista! A lama a não querer morrer, a fugir do braseiro... Nessa hora, pensa, quanta sinceridade não haveria... no egoísmo do salvamento. Que de crimes essa última hora não conteria. E o fogo, o fogo enorme, lambendo tudo, triturando tudo, por entre o rir das labaredas até que a terra desfeita em cinza, como um bando enorme de andorinhas, voasse pelo espaço através dos séculos.

- Todos daquela multidão ávida querem ser os primeiros. O lugar é disputado a soco, a murro, a dente. O caminho que na vida leva ao triunfo é uma cena medonha que mais parece a fuga de uma derrota.

- A Justiça humana é uma roda velha que ameaça ruína a cada momento. O azeite é o dinheiro. Quando deixa de se azeitar a roda, esta enferruja e para. Dinheiro, meu senhor e Deus! por ti eu levaria meu pai à forca ou salvava-o de lá; esbofetearia minha mãe, bateria em meu irmão, prostituiria minha irmã ou seria o pai de seu filho... Mas e o Remorso, perguntas tu? O remorso é uma larva que ainda em vida se arrasta sobre os corpos. Muito bem. Sacode a larva.

(Albino Forjaz de Sampaio - em: Palavras cínicas)

Hay quienes suponen que amo a la humanidad como si yo fuera su propia madre y la hubiera llevado nueve meses en mi perfumado vientre; por esa razón no pasaré más por el valle donde se elevan las dos unidades del multiplicando...

Oh! execrable envilecimiento! Cómo se asemeja uno a la cabra cuando ríe!

Ya es tiempo de abandonar esos gloriosos recuerdos que no dejan tras sí más que la pálida vía láctea de las penas eternas...

Quién no sabe que quando se prolonga la lucha entre el yo, pleno de altivez, y la magnitud terriblemente creciente de la catalepsia, el espíritu alucinado pierde el juicio?

Pretendéis acaso que con haber injuriado, como en broma, al hombre, al Creador, y a mi mismo, en mis justificables hipérboles, mi misión está cumplida?

No es fácil hacer morir del todo a los hombres, y alli están las leyes; pero, con paciencia, se puede ir exterminando una por una las hormigas humanitarias...

Mis razonamientos chocan a veces contra los cascabeles de la locura, y la apariencia sería de lo que al fin de cuentas sólo es grotesco (aunque según ciertos filósofos, sea difícil diferenciar al bufón del melancólico, puesto que la vida misma es un drama cómico o una comédia dramática).

Lástima que no pueda yo mirar a través de estas páginas seráficas el rostro de quien me lee...
(Conde de Lautréamont, em Cantos de Maldoror)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O Bob Dylan de Eduardo Bueno...

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