Dos trinta aos quarenta, entrega-te e ama a uma só mulher... E que ela seja suave e pura, e bela, e fêmea e saudável como um sol...
Até aos cinquenta, dedica-te exclusivamente aos filhos (se os tiverdes) para que conservem as suas fortalezas, para que não se afoguem no desespero, para que não temam a vida e nem a morte, para que tenham os sentidos sempre abertos para as loucuras e belezas do mundo. E que nunca ouçam de ti um "não", nem recebam de tuas mãos um "castigo", nem te surpreendam arcado sob a dor, nem sob a farsa, nem sob o fracasso... Que não sintam nunca o abandono por teu egoísmo e para que não sucumbam à morte psíquica ainda quando frágeis e ávidos por teu afago e por tua presença...
Dos cinqüenta aos sessenta, retira-te para o campo ou para o mar e remexe tuas vivencias já elaboradas.
Dos sessenta aos setenta, medita sobre as mentiras do mundo, sobre as nozes sempre ocas da juventude, sobre as fantasias que os seres vestem, sobre a riqueza singular que dormita em cada indivíduo e sobre os vãos paradoxos onde as civilizações plantaram moradas...
Dos setenta aos oitenta, movimenta teu corpo saudável, jejua a metade dos dias. De tua inconsciência já transbordam os conhecimentos mais remotos, vives agora toda a milenar transmutação do ser, sabes por que teu corpo harmonizou-se com teu "espírito", sabes as trilhas por onde marchou cansada, doente e inútil a multidão devassa. Tens na tua voz uma melodia e já podes entregar a teus filhos teus tratados.
Dos oitenta aos noventa, compara um prelúdio de Bach com os infinitos prelúdios que nascem de ti e deixa a criança sábia que há em teu íntimo conduzir-te para onde adormecerás serena e eternamente...
Se assim for, terás respeitado as leis milenares dos gênios... Se assim não for, foste apenas um medíocre a mais.
Ezio Flavio Bazzo