
Nos anos 80 as frases que continham a expressão "no bojo" que eram usadas com frequência nos discursos pelos bandos da política e até por professores (no bojo disto e daquilo!!!), me causavam niilismo e nojo. Hoje, quase meio século depois, por incrível que pareça, quando ouço a mesma turma ou seus herdeiros falando em "marco temporal" e em "insegurança jurídica", sinto o mesmo mal estar estomacal. Que merda! Será que não se consegue evoluir nessa quermesse endogâmica? Será que o cão deve sempre e irremediavelmente voltar ao vômito?
A respeito do "marco temporal" e do blábláblá ao redor da demarcação das terras indígenas, trata-se tudo de uma mentirada só, que já ouvia nos discursos fascistas daquele baixinho de botas a quem a turba queimava incenso e idolatrava. E a respeito dos camaradas indígenas, seja com o marco temporal ou atemporal, já não têm mais chances de colocar-se novamente em pé... Se nas aldeias e ao redor delas, está tudo dominado por latifundiários analfabetos e por pistoleiros invasores e, se as vilas e as cidades, supostamente urbanas, estão transformadas numa imensa enfermaria, para não dizer hospício, o que esses pobres silvícolas poderiam encontrar e fazer ali?
Sua destruição e sina foram traçadas e seladas ainda quando, ludibriados pelas hienas colonizadoras, seus ancestrais, entre um trago e outro de ayuhuasca, negociavam suas mulheres, pedaços de terra, de madeira e de ouro, por santinhos e por Bíblias... Agora é tarde!
Ah! O tempo! A clepsidra! Como diria Marx: O tempo é tudo, o homem já não é nada. Quando muito é a carcaça do tempo...
No bojo de toda essa palhaçada e de tudo o que há neste hospício, temos que admitir: nossas vidas são irremediavelmente regidas não apenas pela Insegurança, mas também pela Segurança jurídica e mais: que, como nosso Reino é deste mundo e como acreditamos mais na antropologia do que na teologia, a hipótese de um marco temporal pode até ser melhor do que a de um atemporal... Ou não?
O Mendigo K, que já se prepara para as fartas ossadas de Natal, conversando com uma velhinha no jardim de sua casa e exercitando seu charlatanismo, dizia: quando rezamos ao lado de uma flor ela floresce com mais brilho!!!

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