domingo, 14 de dezembro de 2025

FHC e os frangos...

 


"Tous les animaux étaient des bêtes e les hommes aussi étaient des bêtes..."

Pascal Quignard



Neste domingo de dezembro (o mais belo dezembro de todos os tempos), no final da manhã, os velhinhos e até os mendigos que estavam na fila do frango assado, diziam ter saudades dos tempos do Fernando Henrique Cardoso, quando um frango, até com um punhado de farofa, se podia comprar por uns 12 reais. O de hoje, sem farofa e do tamanho de um nambu (para não dizer de um sabiá), estava custando 64,00. Que diferença brutal! Insistia uma senhora, com traços de sub-normalidade, com seu guarda-chuva já meio aberto... Começava a chover. E os frangos estavam lá, imóveis, bronzeados, uns até com os olhos aparentemente abertos (onde se podia identificar um princípio de cataratas) e naquela posição escandalosamente erótica a espera dos clientes, enquanto os papos iam se espalhando entre aqueles da fila e os que zanzavam, só por curiosidade, ao redor do forno elétrico e que foram para lá apenas para ver como andam as coisas e a quantas anda a filosofia da miséria tão propalada pelos evangelizadores da mídia e das seitas, nestas vésperas de ano novo. Eu, fazia um esforço imenso para manter-me sóbrio enquanto revisava mentalmente uma ou outra página do livro: Viagem ao fundo dos galinheiros... Ou: por quem os galos cantam... (Uma hermenêutica dos claustros...)



O império e a Venezuela, (questa piccola Venezia...) Notícias sobre geopolítica e pirataria...



[... A realidade é a manha, a astúcia que cada um põe em jogo...]

Raul Brandão, 
(IN: Húmus, p. 20)

























sábado, 13 de dezembro de 2025

Enviado por uma correspondente anônima...

 


RUA

[para João do Rio e Ezio Flávio Bazzo]

Eu te saudo
Rua
Livre habitante
dos meus sonhos
Realidade nua
Lua
que vem chorar
meu riso
e confessar meu pranto.

Rua
eu te guardo
em minha memória
passagem estreita
de curvas deformadas
pelo frio e pela fome
da indigência humana
revelada.

E me confesso
amante da tua desventura
mulher de poucos adornos
e verdadeiras mágoas.

Rua
não sei porque,
se nada muda,
preciso tanto dizer-viver
a linha perpendicular
de tua face. 




quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Eduardo Bueno e um fragmento trágico de nossa história...



















FELIZ NATAL & PRÓSPERO ANO NOVO!!!!!!!

 




Nestes dias que antecedem a grande e maior pantomima do ano, com os comerciantes levitando na porta de seus estabelecimentos, no meio de luzinhas e de flocos de neve, uns até, cinicamente, com um gorro vermelho na cabeça oferecendo brinquedos e presentes em prestações e com descontos falaciosos ao rebanho obnubilado que vai zanzando de shopping em shopping... No meio de toda essa falsificação, apareceu o Mendigo K, também com um capuz vermelho na cabeça (estilo Ku klux Klan) que lhe cobria até a parte superior das orelhas, e com sapatos de palhaço. De vez em quando, se se deparava com uma família com seus três ou quatro filhos, retirava uma barba branca do bolso, a enfiava na cara e cacarejava na direção daqueles pirralhos (futuros babacões, pagadores de impostos e de dízimos) o clássico Oh! Oh! Oh... Os pais, abobalhados, que também regrediam às suas infâncias,  deixavam que suas filhos (já adestrados) se jogassem nos braços daquele 'Papai Noel' misterioso... daquele vampiro emocional...  que lhe pedissem um beijo, uma apalpadela, este ou aquele presente ou até, este ou aquele milagre... O show é quase inacreditável. Como é que chegamos a tamanha imbecilidade coletiva? E, pior: como é que esse circo se repete todos os anos, há séculos, sem que possamos tomar consciência e tornar-nos  adultos?

Quando a cena terminava, o Mendigo se livrava do gorro e da barba, ria meio envergonhado e meio melancolicamente, deixando aparecer escrito na camiseta que usava, esta frase de César Vallejo, o mais importante e maldito poeta peruano: "Levanto minha voz e acuso minha geração de impotente para criar ou realizar um espírito próprio, feito de verdade, de vida, enfim, de uma saudável e autentica inspiração humana. Pressinto, cada dia mais, um grande desastre para minha geração, daqui a uns quinze ou vinte anos..."