domingo, 14 de dezembro de 2025

FHC e os frangos...

 


"Tous les animaux étaient des bêtes e les hommes aussi étaient des bêtes..."

Pascal Quignard



Neste domingo de dezembro (o mais belo dezembro de todos os tempos), no final da manhã, os velhinhos e até os mendigos que estavam na fila do frango assado, diziam ter saudades dos tempos do Fernando Henrique Cardoso, quando um frango, até com um punhado de farofa, se podia comprar por uns 12 reais. O de hoje, sem farofa e do tamanho de um nambu (para não dizer de um sabiá), estava custando 64,00. Que diferença brutal! Insistia uma senhora, com traços de sub-normalidade, com seu guarda-chuva já meio aberto... Começava a chover. E os frangos estavam lá, imóveis, bronzeados, uns até com os olhos aparentemente abertos (onde se podia identificar um princípio de cataratas) e naquela posição escandalosamente erótica a espera dos clientes, enquanto os papos iam se espalhando entre aqueles da fila e os que zanzavam, só por curiosidade, ao redor do forno elétrico e que foram para lá apenas para ver como andam as coisas e a quantas anda a filosofia da miséria tão propalada pelos evangelizadores da mídia e das seitas, nestas vésperas de ano novo. Eu, fazia um esforço imenso para manter-me sóbrio enquanto revisava mentalmente uma ou outra página do livro: Viagem ao fundo dos galinheiros... Ou: por quem os galos cantam... (Uma hermenêutica dos claustros...)



Um comentário:

  1. Bazzo, Ezio Flavio. Viagem ao fundo do galinheiro: por quem os galos cantam: ( uma hermenêutica dos claustros). Brasília: Bilis Negra, 2021.

    Neste livro de 414páginas, Ezio Flavio Bazzo escolheu os galos e os galinheiros como pretexto para empreender uma grande e significativa viagem ao âmago de si mesmo e do sentido da vida.

    Vai reunindo aqui e ali, personagens, episódios, paisagens, memórias, e com seu olhar de viajante experiente mostra ao leitor, retratos, fragmentos, retalhos, de todos os tamanhos e de todos os formatos de um cotidiano igual em toda parte: insípido, desprovido de sentido, tosco, cambaleante, inaceitável.

    No livro ele se encontra, sempre de forma superficial, com muita gente que cruza seu caminho tendo o galo como personagem principal. A partir desses encontros casuais tece sua visão de mundo e dos seres.

    Pesquisou, estudou e descobriu muita informação sobre galos, galinheiros, rinhas. Foi lá nos estudos de biologia e zootecnia para encontrar o galo-bankiva ( gallus-gallus) ancestral da atual galinha doméstica. Pode-se observar durante a leitura que muita gente contribuiu espontaneamente com informações sobre um assunto tão estranho. Tao estranho quanto o é a vida e a história do ser humano.

    A narrativa ressalta a beleza dos galos, sua postura viril, sua belicosidade, sua tirania sobre as galinhas e o convívio sempre estreito deste animal como o homem que o admira e domina desde tempos imemorais.

    Falando sobre galos, galinheiros, pessoas comuns e suas rotinas de vida, não pode deixar de falar no claustro. O claustro que ” é capaz de alterar o DNA até de uma pedra”. O claustro que parece ser a condição de todos.

    É uma viagem para poucos, realizada à luz do intelecto, repleta de frases e pensamentos que evidenciam a cultura do autor.

    Funciona mais ou menos como folhas ao sabor do vento e do canto de todos os galos do mundo, com a pergunta desprentenciosa que a acompanha: – Para quem os galos cantam? Que aqui ousamos responder: Para Ezio Flavio Bazzo, é claro!

    { o livro pode ser adquirido na livraria das Absurdidades, no blog do autor: http://eziobazzo@blogspot.com}

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