quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A decadência dos Carcaras...

"A uns trezentos ou quatrocentos metros da pirâmide me inclinei, peguei um punhado de areia e o deixei cair silenciosamente um pouco mais adiante e disse em voz baixa: Estou modificando o Sahara..."
Jorge Luis Borges
(IN: El desierto)



Confesso que sinto uma imensa decepção e até uma certa tristeza ao ver os Carcaras tornando-se tão domésticos como frangos aqui no meio urbano e nas quadras repletas de restos de comida e de pacotes que os mendigos jogam diante das casas...
Eu que desci da nascente do Rio São Francisco (Serra da Canastra, em Minas Gerais) até sua desembocadura no Atlântico (Piaçabuçu, Alagoas), praticamente só para fazer uma homenagem e um elogio  a essas aves que considerava ferozes e indomáveis, vejo estupefato, todas as manhãs, que no meio de pombos, de urubus e até de galinhas, estão por aí miseravelmente revirando lixeiras em busca de migalhas e de porcarias que a cidade rejeita e joga naqueles latões de lixo. 
O que teria acontecido para tamanha decadência? 
Hoje pela manhã, inclusive, assisti a um passarinho menor que um sabiá, praticamente só penas e bico, dando um cacete imenso em dois Carcaras. Repito: em dois. Ouvi que gemiam com a penugem preta da cabeça arrepiada enquanto tentavam fugir do pequeno agressor, num gesto de covardia inaceitável. Que miséria e que decadência...




3 comentários:

  1. Foda-se o carcara! O problema são as pessoas continuarem rezando, indo a igrejas e etc. Essa covardia é que deveria nos preocupar...

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  2. Caro Ezio, achei que talvez pudesse te interessar: https://elmanifiesto.com/cultura/252940591/Damnatio-memoriae-y-profanacion-de-tumbas.html

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