sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A cirurgia do Presidente e a espetacularização das intervenções médicas...


"Un pedante que vio a Solón llorar la muerte de un hijo, le dijo: Para qué lloras así, si eso de nada sirve? Y el sabio le respondió: Por eso precisamente, porque no sirve..."
Citado por Miguel de Unamuno
(IN: Del sentimiento trágico de la vida, página 63)

Desde a morte do Tancredo Neves, com todo aquele espetáculo midiático, hospitalar e mortuário esse costume exibicionista, sádico e estranho tem pautado a vida política no país. 
O que é que leva uma autoridade como o Presidente da República a deixar-se filmar, fotografar e entrevistar numa cama de hospital e até mesmo exibir suas entranhas aos eleitores e até aos adversários? Não tem sentido algum essa exposição, essa divulgação, essa exibição, esse vexame e esse espetáculo grotesco. Não é possível que na equipe dessas autoridades não haja alguém com uma função parecida a de um ombudsman que pelo menos, zele pela dignidade, pela decência e pela estima do doente!
E os médicos? Será que os 10 anos acadêmicos, os horrores das enfermarias e dos IMLs e a insistência obsessiva da cátedra pelo cumprimento dos protocolos hipocraticos não foram suficientes para fazê-los compreender que a discrição, a sensatez e a preservação da intimidade do doente é fundamental para sua reabilitação, tanto física como mental? E que, pelo contrário, a exibição de suas entranhas e debilidades a um público anônimo, muitas vezes perverso, não lhe favorecerá em nada? De onde advém essa necessidade de dar uma aula sobre o corpo do doente, descrever para leigos e bobalhões a longitude e a magnitude de suas vísceras e de outras misérias da condição humana? 

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