quinta-feira, 11 de julho de 2019

Do Canabidiol, do elixir paregorikós, da maconha e da ignorância dos 'chupatintas'...


[... Vê, olhando para trás, como nada significou para nós, toda a velha porção de eternidade que se passou antes que nascêssemos...]
Tito Lucrécio Caro
(IN: DA NATUREZA, p. 120) 




Nesta semana, ali no Congresso Nacional, voltou-se a discutir sobre a regulamentação e o uso do Canabidiol
Canabidiol, muita gente já sabe, é um produto extraído da planta da maconha e que já vem sendo usado com "sucesso" em diversos países, para amenizar sintomas de doenças, psico-neurológicas, mas que no Brasil.., por preconceitos contra a erva, os doentes ainda não têm acesso. 
Estava lá o porta-voz do governo mergulhado numa espécie de êxtase patriótico, insinuando aos angustiados familiares de pacientes, a técnicos e a especialistas no assunto que liberar o uso do Canabidiol era quase como admitir que se cultivasse a erva nos fundos de casa, nos quintais, nas varandas, em vasos minúsculos nas coberturas dos prédios, nas hortas comunitárias, nos canteiros dos cemitérios, no campus das universidades e no meio dos hibiscos... E que isto seria ariscado, já que o país poderia tornar-se, de um dia para outro num playground de maconheiros... Numa suruba de alucinados! Numa nação de porra-loucas e etc. 
Mas as mães, que não estavam interessadas em previsões do futuro e muito menos na harmonia social póstuma e que só pensavam num vidrinho de 50 ml com gotas de Canabidiol para amenizar o sofrimento de suas crianças o olhavam curiosas e quase descrentes. As mais ilustradas até tentavam entender qual foi, afinal, a razão histórica que levou o mundo a demonizar desse jeito essa pobre erva?, erva que seus avôs fumavam na beira dos rios ou antes do café da manhã e que sua tataravó não ia para a cama sem ter uma trouxinha enrolada sob o travesseiro. Sem falar que pendurado atrás da porta do quarto matrimonial havia, durante o ano inteiro, uma espécie de bouquet da erva com suas florzinhas já murchas e prontas para serem queimadas... Que desgraça havia acontecido em relação a essa planta?, se no passado a ciência havia se aproveitado até da papoula de opiáceos para produzir diversos medicamentos desde o elixir paregórico até a morfina... qual era o problema com o tal Canabidiol?
Um senhor que estava quase na última fila, que parecia estar ali por engano e que inclusive já havia declarado, em outro ambiente, que considerava a plantação de soja mais nociva que a de cannabis, percebendo que a fala do burocrata era intelectualmente limitada  indagou-lhe:
Com certeza o senhor já ouviu falar da Rauwolfia serpentina, não é verdade? E das imensas plantações de ópio que havia na Índia e na China, não é verdade? E de como o seu uso, fumado, dizimou parte das populações daqueles países. Não é verdade? Pois bem, se o mundo da ciência tivesse pensado como o senhor, hoje não conheceríamos nem mesmo o elixir paregórico e muitos de nós até teríamos morrido de cólicas na infância, pois o elixir paregorikós é apenas um dos vários medicamentos produzidos a partir da papoula do ópio. Me entendes? E se da planta Rauvolfia serpentina, que os asiáticos usavam para fazer viagens astrais e subterrâneas, foi produzido um sedativo que hoje os psiquiatras do mundo inteiro usam para serenar seus psicóticos e seus esquizofrênicos, qual é realmente o problema com o tal Canabidiol?

Um comentário:

  1. Eu mesmo "preciso" desse MEDICAMENTO. esse país chamado Brasil é um... CU SUJO! Me entenderam não é!!

    ResponderExcluir