sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Brumadinho e a Escola de Frankfurt...




O dia em Brasília amanheceu uma maravilha! Com o sol meio amarelado cruzando as cortinas e inventando duas ou três novas cores antes de projetar-se na parede dos fundos onde sete ou oito máscaras mexicanas vigiam meu sono, meus pesadelos e meus passos há décadas. Viva México, mierda!!!
Reencontrei o mendigo K.
Como aqui em Brasília 90% das padarias poderiam ser processadas e acusadas pela Federação Cósmica dos Padeiros de assassinarem a história do panefício, duas ou três, supostamente francesas, fazem o maior sucesso e estão sempre lotadas de pequenos burgueses que vão diariamente ali, não apenas para ouvir La boheme, devorar uma baguete parisiene "feita com trigo que vem lá dos campos nevados da Alsácia", mas principalmente para manter viva a lembrança do exílio voluntário e praticar uma ou duas frases naquele idioma apreendido lá nos subúrbios dos subúrbios dos guetos de Versailles.
Foi ali, nos degraus de uma dessas patisseries que encontrei o camarada mendigo. Comia um pain au chocolat que o filho de algum burocrata, já super-nutrido, deixou propositadamente cair sob a mesa. A mãe fingiu não ver, puxou o cartão, pagou a conta, foi embora e a fúria estomacal do mendigo K, pelo menos por esta manhã, estava contida.
Antes que eu pedisse meu café veio confidenciar-me três ou quatro coisas, mas de forma bem sintética:
1. Para uma pessoa em estado maníaco, até as montanhas de dejetos de Brumadinho, no alvorecer, parecem uma coisa transcendente!
2. Parafraseando a um dos judeus da Escola de Frankfurt: depois de Brumadinho será difícil para os mineiros (e para qualquer um que tenha mais de 12 anos) continuar fazendo poesia!
A respeito das negociações do Estado, da policia, dos padres e das famílias dos mortos com a empresa que causou o desastre, recitou com cara de ceticismo e com um entusiasmo quase revolucionário: Não sejamos idiotas! Não é para os mortos e nem para os mendigos que os acordeões tocam!!!
E como se não tivesse ficado satisfeito, quando percebeu que eu me retirava, gritou lá do meio dos gordinhos que ainda banqueteavam: E como dizia Nietzsche“Du fond de votre automne, a la fin du siècle dernier, je vous prédis un hiver et une pauvreté glacials…

______________________________________________
EM TEMPO: Acabo de receber a noticia brochante de que daqui a alguns minutos, a população de Brumadinho (aquele vilarejo que há menos de uma semana foi reduzido a uma montanha de dejetos e de lama e que teve 400 pessoas mortas no estouro de uma barragem), irá 'lançar dos céus' sobre aquele barreiro, muitos e muitos cestos de pétalas de rosas. 
Fico momentaneamente abismado!
Não é uma coisa incrível? 
O que pensa essa gente? 
É evidente que esse sentimentalismo animista representa o recuo na luta por seus direitos, o fatalismo da submissão, o sintoma de uma psicopatologia esotérica, de uma frouxidão crônica e, por fim, da rendição e da capitulação... Se as velas, os Mantras e as pétalas de rosas servissem ou resolvessem alguma coisa, a América Latina (esse pedaço do mundo infestado de alienados) já seria um paraíso...
E é evidente que os parentes dos mortos elaborariam melhor seu luto e suas perdas e que os próprios mortos, acreditem, se sentiriam melhor representados se, ao invés de rosas (possivelmente até compradas na floricultura da empresa que não soube evitar a tragédia) ouvissem meia hora de gritos e de furia misturados a rajadas de metralhadoras, de espingardas, de garruchas e de pistolas, mesmo que fossem para o alto...
Uffa! Não tem solução!!! 

2 comentários:

  1. Segundo a jornalista Monica valdvoguel, anteontem na globo news, isso resolve o problema das barragens "fazer tijolos com a lama e depois tapar AQUELE buraco". Uma quantidade de lama que chega a arrastar locomotivas, da pra fazer tijolos e construir a muralha do Brasil, oh disgrassa

    ResponderExcluir
  2. https://www.youtube.com/watch?v=Aw17Qn3Jtxw

    ResponderExcluir