quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A quermesse de Madrid...

"... Se dice que en Europa la calle esta viva y en América muerta. Es falso. Nada tan intenso, tan electrizante, tan vital y animado como las calles de New York. Siempre lucen llenas de la multitud, el tráfico, la publicidad, a veces con violencia y otras con desenvoltura. Abarrotadas por millones de personas errantes, indolentes, violentas que parecen no tener nada qué hacer, y sin duda no lo tienen a no ser producir la trama permanente de la ciudad..."
(Jean Baudrillard, In: América, página 31)

Madrid continua parecendo uma quermesse ou uma festa paroquial sem data para terminar... 
Há gente, muita gente na rua! Impossível andar por aí sem estar se acotovelando, tropeçando e até sarreanto com estranhos... O quê quer afinal essa gente? Vivem realmente como se o cotidiano fosse uma festa de São Pedro ou de San Firmino... Há filas para tudo e para todos os lados... E agora então, que estão esperando o "menino jesus" e o "papai noel"....... 
Insisto: apesar da longevidade estar avançando escandalosamente, o mundo esta cada vez mais infantilizado.  É puerilidade e música por todos os lados... e gente balançando o esqueleto em qualquer lugar que se vá...Como se o flamengo lhes tivesse envenenado o espírito!!! Neste momento, por exemplo, aqui nas ruas que saem de La Puerta del Sol estão os Mariachis (mexicanos), os bolivianos que andam com suas flautas pelo mundo inteiro tocando El Condor Passa; um negro que imita Bob Marley na guitarra, um pouco mais acima um grupo de italianos cantando ópera, uma senhora batendo palmas e agitando castanholas e já chegando no Callao uma velhinha tocando algo incompreensível no violino e um sujeito no acordeão executando Bella Chao pela milionésima vez... Enfim, uma barulheira e um inferno musical! E todo mundo fingindo que é feliz e que a vida é bela. Que caralho é esse? Sem falar que em cada loja ou em cada café que se entra está lá uma caixa de som cuspindo acordes sobre o rebanho... Ah, ia me esquecendo que, se não bastasse os instrumentos que já existem, ainda há um velhinho do norte da Europa sentado nas esquinas, um dia aqui e um dia ali, tocando musicas de natal em copos de cristal... Quer mais??? 
E o rebanho, (la muchedumbre), subindo e descendo ruas, arrastando filhos, cachorros, casacos, guarda-chuvas, pacotes, malas, celulares, frangos assados fumegantes que compraram no sub-solo do Corte Inglês... 
Os teóricos do Controle de Natalidade (sufocados e amedrontados pelas igrejas) se ainda têm alguma dúvida sobre a urgência da medida, deveriam passar uns dias por aqui... Aliás, sobre isto, o mendigo K me dizia: Na sociedade do futuro, aqueles que tiverem mais de dois filhos serão banidos do planeta... além de levarem umas boas chicotadas diariamente, nos quarenta dias após o nascimento do bebê... 
Veja que paradoxo: ao invés de controlar essa proliferação de crianças, ficam com essa babaquice neurótica de querer separar vidro de papeis, casca de banana de cascas de ovos, plástico de bagaço de laranja... de separar lixo orgânico do lixo que dizem demorar um milênio para virar pó... E isto ao mesmo tempo em que qualquer idiota pode engravidar cinco ou seis mulheres na mesma comunidade, mas não pode jogar um saco plástico pela janela, se não quiser ouvir uma chiadeira interminável, ir para a cadeia e ser responsabilizado pela ruína do planeta... Que babaquice é essa? 
Fez esse discurso visivelmente de improviso, deu-me as costas, entrou no ônibus 2 e gritou-me pela janela: por mim, quero que o planeta se foda!!! Je ne suis pas votre frère...
O ônibus fez uma breve parada e tive tempo de perguntar-lhe sobre o roubo do celular.., se a policia o havia recuperado... ao que me respondeu: odeio a masturbação judicial...

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