segunda-feira, 30 de abril de 2018

Mais Sêneca e menos ansiolíticos... "Quando vires alguém com um estilo rebuscado e cheio de adornos podes ter a certeza de que a sua alma apenas se ocupa igualmente de bagatelas".



JUAN Arnau, 28 abril 2018 - 16:47 BRT
Cultive o espírito porque obstáculos não faltarão. O conselho de Confúciopoderia  ter sido assinado por qualquer um dos filósofos estoicos. Devemos a Woody Allen uma versão moderna dessa máxima: “Se quer fazer Deus rir, conte a ele seus planos”. Um poeta espanhol a finalizou com um verso lapidar sobre o inexorável julgamento do tempo: “A pessoa só compreende depois que a vida era algo sério”.


Esses são, em termos gerais, os três vértices do estoicismo antigo, que parece ressurgir em nossos dias. É uma miragem? As sociedades modernas se encontram dominadas pela rentabilidade tecnocrática da selfie, a autoindulgência (todos nós merecemos, especialmente se pagarmos) e o capricho. Significa fabricar um ego frágil e injustificadamente vaidoso. Uma situação que pode ser supostamente remediada com uma boa dose de estoicismo. Uma vez que não podemos controlar o que nos acontece e vivemos totalmente voltados para fora, atemorizados e estressados, uma vez que somos mais circunstância do que nunca, talvez essa antiga filosofia possa nos ajudar, ela que inspirou Marco Aurélio, imperador de Roma, um homem que, por sua posição, conheceu o estresse melhor do que ninguém.
Mas nesse deslocamento, nessa busca de inspiração no passado greco-latino, corre-se o risco de confundir, e isso de fato ocorre, estoicismo com voluntarismo, tão vigente e puritano. A cultura do esforço e a busca do sucesso dominam as sessões de coaching, que é, segundo seus proponentes, a arte de ajudar outras pessoas a cumprir seus objetivos e a “preencher o vazio entre o que se é e o que se deseja ser”. Não existe maior traição ao legado estoico. O voluntarismo resseca a alma e uma das finalidades do estoicismo é recriá-la. O que chamamos “desafios” e “metas” não são outra coisa a não ser viseiras que não nos permitem ver mais do que um único aspecto da realidade e a pessoa acaba batendo o avião contra a montanha, como aquele piloto da companhia Germanwings. fez nos Alpes da Suíça em 2015.
Essas metas nos trabalham por dentro e parecem projetadas para excluir a contemplação e a observação atenta e desinteressada. Contra a tirania da meta, os estoicos pretendiam se livrar de paixões muito urgentes e monopolizadoras. De fato, um dos sinais distintivos foi considerar a poesia como meio legítimo de conhecimento. A lírica nos mantém em uma atitude aberta e nada sabe de metas e objetivos. A poesia era aos estoicos, especialmente a de Homero, genuína paideia. Entender isso significa ganhar uma liberdade interior, não estar eternamente abduzidos pelo circo e as telas, uma independência moral, não a opinião geral e a gritaria do Twitter e transcender a dependência da pessoa em relação a sua parte animal (a suposição de que o homem é esse ser singular que, como dizia Novalis, vive ao mesmo tempo dentro e fora da natureza). Com esse “cuidado de si”, que Marco Aurélio chamava meditações, era possível conseguir uma autarquia ética que teria uma importância decisiva no pensamento político grego

Imaginem  Zuckerberg abraçando esta filosofia; pois bem, foi isso que fez o imperador Marco Aurelio

Alguns exemplos de estoicismo moderno não estão muito longe. O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein conta que quando jovem experimentou essa sensação de que “nada poderia acontecer com ele”. Era uma forma de dizer que, não importa o que acontecesse (uma bala perdida, um câncer), saberia aproveitar a experiência. Uma atitude que lhe permitiu assumir o posto de vigia em meio ao fogo cruzado durante a Primeira Guerra Mundial. Encontramos algo parecido na francesa Simone Weil, sempre se arriscando, seja na fábrica da Renault ou nos hospitais de Londres, com a humildade como valor supremo, que faz com que a chama do divino não se apague.
Curiosamente, a atitude desses dois grandes filósofos, nos quais revivem os velhos ideais greco-latinos, contrasta com algumas obsessões atuais. Do medo ao próprio corpo, que requer um exame contínuo, à obsessão pela segurança (to feel safe, to feel at home). Como se um scanner e um refúgio pudessem outorgar essa tranquilidade, como se fosse preciso se trancar para sentir-se seguro. Enquanto um mandatário recente se perguntava quanto dinheiro precisava para sentir-se seguro e, ao não encontrar o número, passou a acumular capital, Wittgenstein se expunha na trincheira e Weil na coluna de Durruti, o anarquista que combateu na guerra civil da Espanha.









Vista da Sala dos Filósofos dos Museus Capitolinos de Roma.
Vista da Sala dos Filósofos dos Museus Capitolinos de Roma. ALAMY STOCK PHOTOO estoicismo implica, como disse a espanhola María Zambrano, a recapitulação fundamental da filosofia grega. Nesse sentido foi e é tanto um modo de vida como um modo de se estar no mundo. Zenão de Cítio, natural da colônia grega do Chipre, figura como fundador da escola. Tinham algo em comum com os cínicos, especialmente a vida frugal e o desprezo pelos bens mundanos, e refletiram sobre o destino e a relação entre natureza e espírito. Existiu um estoicismo médio (platônico, pitagórico e cético), mas os que deram fama à escola foram seus representantes romanos: um imperador, um senador e um escavo. Todos eles surgiram, como agora, sob a sombra do Império. Aquele império era militar, o de hoje é tecnológico. Imaginem Zuckerberg abraçando o estoicismo; pois bem, foi isso que fez o imperador Marco Aurélio. Sêneca nasceu na periferia do Império, na  Hispânia, mas foi uma figura fundamental da política em Roma, senador com Calígula e tutor de Nero. Epíteto chegou à cidade sendo um escravo. Quando foi libertado fundou uma escola e apesar de, seguindo o exemplo de Sócrates, não ter escrito nada, seus discípulos se encarregaram de transmitir seu legado.Moralistas e contemplativos, todos eles defenderam a vida virtuosa, a imperturbabilidade e o desapaixonamento, sentimentos todos eles bem pouco rentáveis a uma sociedade do entretenimento. O estoicismo conquistou grande parte do mundo político-intelectual romano,se tornou uma regra de ação e sua influência chegaria a grandes filósofos como Plotino e Boécio. Não descreveremos sua lógica refinada, mas vale a pena lembrar que a subordinavam à ética. Ao contrário de hoje, pelo menos no mundo financeiro, onde o algoritmo domina a moral. Nela se destaca sua doutrina dos indemonstráveis, provavelmente de origem indiana.

Nossa obsessão pela segurança contrasta com a atitude de estoicos modernos como Weil ou Wittgenstein

Concebiam a alma como uma lousa onde as impressões eram gravadas. Delas surgem as certezas (se a alma aceitar a impressão) e os interrogantes (se for incapaz de localizá-la). Para os estoicos, o mundo era, como para nós, substancialmente corporal, mas sua física não nega o imaterial. Concebe a natureza como um contínuo dinâmico, coeso pelo pneuma, um sopro frio e quente, composto de ar e fogo. Herdaram de Heráclito o fogo como princípio ativo e primordial, de onde surgiu o restante dos elementos e para onde retornaram. Como o humor e o pranto, o pneuma não se movimenta e sim se “propaga”, contagiando com alegria e doença.
Hoje não seria exagerado colocar em prática alguns de seus princípios. O imperativo ético de viver conforme a natureza, que nosso planeta agradeceria. O exercício constante da virtude, ou eudemonia, que permite o desprendimento. E, por fim, o que Nietzsche chamou o amor fati, a aceitação e querença do próprio destino, remédio eficaz para tudo aquilo que produz desassossego. Não dá para dizer que esses princípios proliferam em nossos dias. Se um velho estoico pudesse vir ao nosso tempo, veria, nas grandes desigualdades propiciadas pela economia financeira, um descuido de si, um esquecimento dessa autonomia moral que evita que surjam emoções como o medo e a vaidade, que criam a cobiça. Emoções contrárias à razão do mundo que, em nosso caso, é a razão do planeta.





SEXO E POLITICA... Wilhelm Reich ressuscitado!

Veja abaixo, no vídeo, a filósofa petista contrariando o pensamento da velha teatróloga Ruth Escobar, segundo a qual o pessoal de direita, por ter tido uma infância mais tranquila e afetuosa era sempre "melhor de cama"... Enfim: 518 anos de surrealismo fantástico! E la nave va... com todos os caminhos conduzindo à fornicação...








domingo, 29 de abril de 2018

Celibatários involuntários...

"Confesso que este brilhante bazar de vaidades e de misérias humanas me atrai, sobretudo, pelos preciosos divertimentos que proporcionou à minha carne e ao meu espírito..."
Rétif de la Bretonne

O atentado da semana passada em Toronto, que matou umas dez pessoas, cometido (segundo a polícia de lá) por um tal Alek Minassian trouxe ao conhecimento de todos uma excentricidade e uma bizarrice mais do que bizarra: a existência da confraria dos Celibatários Involuntários. 
Ao contrário do que muita gente pensou o tal Alek Minassian, de 25 anos, (o responsável pelo ato terrorista) não é membro do Estado Islâmico, nem da Al Qaeda, nem dos antigos Panteras Negras ou de outra das bandas mafiosas do Canadá, não. É membro do Clube dos CELIBATÁRIOS INVOLUNTÁRIOS (INCEL). 
Que porra é essa? Nunca ouviu falar? 
Segundo eles, uma espécie de sociedade de machos beta (o contrário de machos alfa), daqueles que não fazem sexo porque não conseguem, porque não tem acesso às mulheres, porque as mulheres não querem fazer sexo com eles e etc... 
Lhes parece estranho? 
Claro, mas não é tão estranho assim não. 
Aqui nos trópicos, aqui entre nós, nestes cafundós ensolarados também há uma legião (só que muito mais discreta) de celibatários involuntários
Gente que por motivos que nem Melanie Klein, nem Margaret Mead e nem Freud explicam, está celibatária ha muito tempo. Motivo: as mulheres, cada dia mais 'empoderadas' e contentando-se  com a sedução entre elas, estão cada vez mais arredias ao sexo com homens. As desculpas? São intermináveis. 
Entre elas até que ficam se lambendo por aí e se enfiando objetos pelos buracos, transformando seu cotidiano em um exercício permanente de lirismos e de mitomanias... mas ir para a verdadeira concupiscencia, com um 'macho', (seja ele beta ou alfa) Ah!, isto só uma vez por ano, e ainda nos breves dias do solstício. 
As razões? Repressão de cinco mil anos. Dismorfia. Moralismo e medievalismo religioso. Confusão entre maternidade e sexo. Conflito e fidelidade para com o corpo, para com o pai, para com a mãe e para com os irmãos. Medo de serem consideradas putas, de pegar sífilis, de engravidar, de decepcionar, de estarem sendo apenas + uma mercadoria nos braços da lascívia de um "cachorro" e, claro, por  nunca terem ouvido de ninguém que o prazer da sexualidade, além do gozo e dos filhos, é fundamental também para a normatização dos hormônios, da 'auto-estima', do 'amor próprio', do 'interesse pelo mundo', da 'soberania', da 'criatividade' e etc... 
Segundo aqueles lunáticos canadenses é essa recusa feminina da libido e essa dificuldade para 'afogar o ganso' que os faz mais idiotas do que já são por natureza e que os leva a fazer apologia do estupro, da misoginia, do ódio às mulheres e da violência contra a sociedade. Um deles, por coincidência até brasileiro, deu a seguinte sugestão para seus comparsas minimizarem o assunto: "peguem as bêbadas e as feias..." 
E la nave va...

sábado, 28 de abril de 2018

Como não compadecer-se desse homem??? (3)

[...O rebanho não perdoa aquele que não tem o porte de uma ovelha. Manter-se erguido no meio do aprisco genuflexo já é ter postura de pastor, mas isto também mancha. O pastor está sempre próximo ou dentro do rebanho e sofre do contágio de suas epizzotias... A única maneira de não se diminuir, de não se manchar e de não se contagiar é estar fora do rebanho, sobre o rebanho, longe do rebanho...]
Vargas Vila
(IN: Horario reflexivo, vol. 26. p. X)


Como não compadecer-se desse homem ??? (2)

[ No drama filosófico, são os homens e não as idéias as que falam. No drama fisiológico, são os instintos que gritam. No drama social, são as mentiras que se destroem entre si...]
Vargas Vila
(IN: De los viñedos de la eternidad, vol. 25. pp51)


sexta-feira, 27 de abril de 2018

Como não compadecer-se desse homem??? (1)


[As democracias têm isto de triste: escolhem sempre um escravo que as governe. E o que pode ser o governo de um escravo senão uma escravidão???]
Vargas Vila
( In: De los viñedos de la eternidad, vol. 25, pp. 152,153)

[

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A ilustre governadora de Madrid e a cleptomania...

[Cada um é como Deus o fez e ainda pior muitas vezes]. 
Cervantes

Pegaram a governadora de Madrid roubando cosméticos anti envelhecimento num mercado daquela cidade! 
Meus correspondentes madrileños que costumam fazer piadas e ironias a respeito da ladroeira generalizada no Brasil, estão em silêncio, acabrunhados e cabisbaixos.  
Todos sabemos que se ao invés da ilustre governadora tivesse sido uma menina clandestina daquelas que conseguiu migrar da África ou do Magreb para lá, fariam um escândalo xenófobo e, possivelmente, a mandariam de volta para seu país ou para uma das antigas prisões de Franco...
Por uma espécie de ética primitiva, nem mencionei o assunto com eles. Mas, claro, voltei a revisar as páginas de Ortega Y Gasset, as andanças do velho Don Quijote e também, claro, os relatos do bispo de Chiapas, Bartolomé de Las Casas, sobre as aventuras  de horror dos espanhóis na Conquista da América... 
Cleptomania! A ilustre senhora defendeu-se dizendo que embolsou aquelas porcarias sem perceber, sem querer, e num impulso inconsciente. É possível! A cleptomania é isso. O sujeito se apropria daquilo que não é dele por impulsos inconscientes que não consegue controlar. (Normalmente, segundo a psicanálise, são impulsos de origem sexual). A policia, mesmo a mais ignorante, até já sabe disso. De vez em quando surpreendem por aí alguma madame, cheia de cartões de crédito, de jóias caras, de penduricalhos em ouro nas orelhas e com as tetas praticamente de fora seduzindo (apenas seduzindo, nada vai além da sedução) e roubando grampos de cabelo, caixas de fósforos, chocolates ou bagatelas do tipo. 
Que isto é um sinal da precariedade e da miséria humana, ninguém duvida, mas foi listada pelos 'sábios' da Organização de Saúde, no CID 10, como um transtorno psíquico e não simplesmente como mau caratismo... 
Afinal de contas: como livrar-se dos cinco mil anos de massacres, de fraudes e de trapaças que nos antecedem, que estão presentes nos nossos DNAs e que fazem de cada um de nós, potencialmente, um estelionatário?

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O mendigo K. e o bloqueio dos celulares clandestinos...

"Não podemos fechar os olhos para os processos sociais e canalhas que, por um lado, SUPER-erotizam as mercadorias e por outro DES-erotizam o sexo..."
Jerome Agel in: p. 28, El terapeuta radical, N.Y.
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Hoje, quarta-feira de abril, acabo de encontrar o mendigo K. na portaria do Ministério das Comunicações. 
Com a noticia de que na semana que vem 40 milhões de telefones celulares clandestinos, comprados de ladrões, de contrabandistas ou de comerciantes trapaceiros serão bloqueados, estava lá em busca de um habeas Corpus numa tentativa de salvar seu Iphone comprado por uma bagatela numa feira de ladrões aqui da cidade. Puxou o aparelho do bolso traseiro e mostrou-me como é tão ou até melhor do que os (legítimos) que são vendidos nos shoppings por vinte vezes mais. Número do IMEI? Que porra é essa?
No meio de uma grande indignação fez apologia das falsificações (roupas, CDs, remédios, perfumes e até de cocaína) e demonstrou-me que a caça aos clandestinos era uma artimanha dos comerciantes (dos mesmos comerciantes protegidos por um alvará, os mesmos que de uma maneira ou de outra haviam desovado os "clandestinos") e que agora, por pura jogada econômica, pressionavam o Estado, a reguladora" Anatel e a polícia... Reguladora? Por quê não regulou antes? 
Estava um pouco ansioso a espera de um advogado que - segundo ele - iria, por 450 reais, entrar no STF com um habeas corpus tentando abortar essa sacanagem. 
Imagine! esbravejou. Somos 40 milhões de sujeitos que temos telefones clandestinos... 40 milhões de trapaceiros! Se nos bloqueiam agora, teremos que jogar no lixo nossos aparelhos e comprar outros. Sem falar que cada lixão será uma montanha radioativa... Ou alguém reciclará essa merda toda? 
Por outro lado, 40 milhões de novas vendas! Não é um negócio da China? Literalmente da China e que favorecerá somente a mesma turba de larápios?

domingo, 22 de abril de 2018

Uma antropologia das nádegas (3)


"Elas tem as nádegas radiantes, mas o espírito está em outro lugar, pois elas passam o tempo olhando-se no espelho. Por quê uma tal inquietação? Que pressentimento têm? As nádegas, de qualquer forma, condensan-se em coloridos quentes de terracota, elas palpitam, crepitam e fluem como uma chuva de grãos de romã. Eis como são as coisas: o rosto desagrega-se, e as nádegas riem..." p.18







sábado, 21 de abril de 2018

Uma antropologia das nádegas... (2)

5.  "Em certos casos extremos, o inchaço das ancas chega mesmo a confundir-se com os testículos, e o alongamento do pescoço evoca o pénis erecto, o que encontramos em alguns desenhos de Picasso (1927). Manifestamente, a mulher não tinha apenas influência mágica sobre a abundância da caça ou a descendência dos homens: era também um ex-voto da ereção.

6. Como todos os primatas, os homens dessa época copulavam por detrás e os sinais sexuais da mulher eram emitidos pelo rabo, como nos macacos. Quanto mais generoso era o rabo, mais a mulher era sedutora. Mas era também bastante incômodo. De tal forma que os homens passaram à cópula facial. Consequência: os seios encheram-se para reproduzirem os grandes hemisférios nadegueiros. O que era uma versão muito mais equilibrada e ágil da mulher. Mantivemo-la. Aliás, ainda existem, no mato do Sudoeste Africano, mulheres com nádegas em forma de cratera; são as bosquímanas, e encontramos esses perfis avantajados nas pinturas rupestres do Zimbabué e da Africa do Sul. A interpretação é sedutora.

7. Na Mauritânia, existiram durante muito tempo casas de engorda, com uma corporação de empanturradoras destinadas a tornar obesas as jovens destinadas ao casamento.

8. Para ser mulher de qualidade, era preciso ser mulher de quantidade, diziam.

9. Na Nigéria, escreveu Mungo Park, até mesmo uma mulher sem pretensões a uma beleza extrema não deve estar em estado de caminhar de outra forma a não ser sustentada por uma escrava de cada lado, e a beldade perfeita é uma carga suficiente para um camelo. O que já dizia Darwin, em A Descendência do Homem e a Seleção Sexual. Sir Andrew Smith viu uma mulher que era considerada uma beleza e que tinha aquela parte do corpo tão desenvolvida que, uma vez sentada no chão, não se conseguia levantar, a menos que se arrastasse até um local inclinado...

10. Os somalis, para escolherem as suas mulheres, põem as candidatas em linha e elegem aquelas cujo a tergo (superficie dorsal) ultrapassa mais o alinhamento...

11. Na Terceira República, vimos, deste modo, aparecerem umas nádegas incríveis e muito sumptuosas que recordavam as nádegas pré-históricas, apesar de serem totalmente artificiais, e a que chamávamos tournure (anquinhas), ballon (balão) sem dúvida para significar que elas se pareciam sobretudo com um aérostato ou, mais simplesmente faux cul (cu falso). Filho dos enchumaços e da crinolina, o faux cul (cu falso) era apenas uma extrapolação das nádegas, uma fuselagem constituída por armaduras metálicas e por acolchoamentos diversos que não enganavam ninguém, mas que pelo menos dava à mulher o equivalente indiscutivelmente lisonjeiro de um grande rabo. Foi o triunfo das nádegas subidas, do espavento...

12. Foi precisamente na época em que a roupa interior tentou, pela primeira vez, opor-se aos enlaces amorosos que Freud elaborou a sua Teoria do Recalcamento e que toda a Paris correu a assistir ao Coucher d'Yvette, o primeiro espetáculo de strip-tease onde, ao som de um piano, uma senhora em traje de dia começava a despir-se lentamente. Era preciso, dizia, que o burguês de 1905 ficasse com os nervos em franja. Ficava. Pelo menos podia persuadir-se que à medida que a mulher se desfolhava, aparecia um corpo que era diferente em certos pontos do corpo dos homens, mas também não lhe era tão radicalmente desconhecido como parecia. Por sorte o cubismo retirou completamente de moda as silhuetas em forma de gôndola. Renovando o sacrifício das Amazonas, para quem o seio direito era um incomodo para o tiro ao arco, algumas desportistas sacrificaram os dois. E, no seu ardor, cortaram também as nádegas. Nos anos 25-30, apareceu então uma mulher completamente nova, isto porque era inteiramente achatada. Chamavam-lhe garçonne... E guardaram-se as crinas para as azêmolas..." (continua)

Uma antropologia das nádegas... (1)

"Se não podes entender o que outro ser humano está fazendo, diagnostique-o".
Dogma fundamental da psiquiatria
(David Cooper in: El lenguaje de la locura,  p. 112)

A melhor aquisição de minha última viagem  foi um livro de Jean-Luc Hennig, publicado por primeira vez pela Calmann-Lévy de Paris, em 1975, e depois pela TERRAMAR Editores de Lisboa, em 1997, com o titulo original:  Brève histoire des fesses e em português: Breve história das nádegas.
Como se pode ver na imagem ao lado, nádegas está escrito com o n maiúsculo o que não aconteceu com os editores franceses. Seria, por um lado, um sinal da concupiscência dos lusitanos? E por outro, do tédio francês?
Outra curiosidade é que estava exposto na vitrine de uma grande livraria de usados em Lisboa, ao lado do livro de Jacques Lacan: A família... 
Sem nenhum cinismo,  e sem nenhuma sacanagem, esse livro deveria ser obrigatório já nas escolas de nosso Primeiro Grau. Sublinhei alguns parágrafos e os reproduzo aqui, sem nenhuma fantasia de querer 'salvar a pátria'.., mas por puro deleite.

1. "As nádegas datam da mais remota antiguidade. Apareceram quando os homens tiveram a idéia de se levantar sobre as duas patas traseiras e assim permanecerem. Um momento capital da nossa evolução, isto porque os músculos das nádegas desenvolveram-se então consideravelmente. 

Entre as 193 espécies de primatas vivos, só a espécie humana possui nádegas hemisféricas que sobressaem continuamente. Apesar de ter havido quem julgasse poder encontrá-las também entre as lhamas dos Andes... Em todo caso, comparados com os homens, os chimpanzés foram descritos como sendo "macacos de nádegas achatadas". O que diz bem do absurdo das nádegas. Portanto, o nascimento das nádegas coincide com a posição vertical. (...) A região secou, a savana substituiu a floresta, e os homens correram sobre a terra. Simultaneamente as suas mãos se libertaram, a posição do crânio sobre a coluna vertebral modificou-se, o que permitiu ao cérebro desenvolver-se. Retenhamos esta idéia interessante: as nádegas do homem estariam, por assim dizer, na origem do cérebro.

2. Os macacos que ficaram na floresta foram privados de nádegas. O que não os perturbou, pois quando uma macaca queria enviar um "sim sexual" a um macho, apresentava-lhe ostensivamente o traseiro. As fêmeas de inúmeras espécies de macacos têm um traseiro que se acende, tornando-se vermelho como uma malagueta e particularmente inchado com a aproximação da ovulação. De tal modo que o macho babuíno ou o chimpanzé passavam o tempo todo correndo de um rabo vermelho para outro, o que lhes permitia esquecer, talvez, o seu infortúnio.  Com a fêmea do homem é diferente. O seu traseiro não incha com seus ciclos menstruais, fica permanentemente protuberante. Está, por conseguinte sempre pronta para o macho e até pode acasalar quando se encontra impossibilitada de conceber. Fato que irritou  por muito tempo a igreja católica.

3. Desmond Morris observa que a fêmea dos babuínos da espécie gelada tem, no peito, uma cópia semelhante ao seu traseiro. E como a sua zona genital é de cor rosa-avermelhado, orlada de papilas brancas, tendo ao centro uma vulva de um vermelho-sangue, reencontramos no período de ovulação esta feliz configuração sobre o peito. (...) Um processo semelhante parece alias ter ocorrido no caso da fêmea humana. Com efeito, se ela tivesse de mostrar o rabo a um macho, este veria um par de lábios vermelhos, rodeado por dois hemisférios inchados e carnudos. Mas apresentar desta forma as suas nádegas aos machos não é frequente. Devido ao fato de nosso modo de locomoção ser vertical, a parte de baixo do corpo passou a ser da frente, ou seja, a mais visível e acessível das zonas de sinalização. Nada de surpreendente, portanto, se descobrimos mimetismos genitais na parte da frente do corpo feminino. É desse modo que os lábios genitais vêem a sua réplica nos lábios pintados, e as nádegas redondas nos seios. 

4.  O seio da mulher assemelha-se o suficiente às suas nádegas para que o sinal seja transmitido. O mimetismo,  não necessita ser exato para ser eficaz. Alias, os seios não são os únicos a ser semelhantes às nádegas: os ombros e os joelhos carnudos são-no igualmente. Especialmente na posição em que os joelhos estão juntos ou ainda quando o ombro está levantado a ponto de tocar a face. Deste modo, podemos dizer que a espécie humana é a única espécie de primatas em que a fêmea possui nádegas um pouco por todo lado..." (continua...)

quinta-feira, 19 de abril de 2018

MALUF - Humilhados e ofendidos...

"Somente a razão é batizada? As paixões seriam os pagãos da alma?"
Dostoievski, p. 16

Parecem intermináveis as discussões sobre o deputado Maluf, não apenas lá no STF, mas também em baixo dos blocos, nas padarias e nos cafés... se  deve continuar preso, se vai para prisão domiciliar, se fica solto e etc. A grande maioria que o considera um ladrão cínico quer que apodreça atrás das grades e que só saia de lá dentro de um caixão lilás. Outros, por razões íntimas, acham que está velho demais para a solidão de um cárcere. Que está com a próstata pifada, com os ossos podres e com os neurônios em pane. Outros, que têm natural e perversamente uma espécie de simpatia e compaixão pelos gatunos nacionais, pelos cleptomaníacos e crápulas que afundaram o país nesta merda e neste lodo que conhecemos... penalizam-se, gostam de bajular milionários sem a mínima preocupação em saber como foi que chegaram a tanto. Subservientes, estão sempre ao redor da mesa e dos banquetes a espera de alguma casca de salame ou das rolhas das champanhe... Se pudessem, também roubariam o Estado, a nação, a igreja e o puteiro da esquina... E é com o currículo dos grandes ladrões que constroem seu alter-ego e seu Ideal de vida. Já que para eles o dinheiro é tudo, não importa sua procedência... e já que a pobreza é sempre um atestado de incompetência e de submissão.
E os juízes estão lá, há horas e há dias, enrolados em suas capas pretas, como abutres, fazendo metafísica e onanismo sobre o preso a quem chamam paciente. Os advogados, pagos com o mesmo dinheiro dos crimes, teatralizam! Uns até se emocionam, Identificam o preso com o avô ou com o próprio pai. Sabem que ninguém é inocente nessa história e que quem defende cegamente as ovelhas pode estar sendo cruel e injusto com os lobos... O preso, por orientação da defesa, aparece deslizando melancolicamente sobre uma cadeira de rodas. Os câmeras se jogam no chão com suas potentes máquinas para registrar as imagens mais apocalípticas e mais dramáticas possível daquele velho condenado. Pensam no jornal da noite, no ópio das noticias, no envenenamento popular e nas donas de casa deprimidas, enfim... no populacho que é geneticamente submisso aos ricos e que se emociona quando vê os ladrões nacionais felizes, fazendo festa nos cassinos de Hong Kong ou nos cabarés parisienses... 
Os gestos, as pálpebras, as mãos, o corpo fala. 
A velhice em si já é um horror! Prender um velho é o mesmo que chover no molhado. A prisão só tem o sentido de punição quando o ser que é trancafiado lá ainda consegue beber uma garrafa de vinho sozinho, levar a bailarina para sua alcova, turbinar com sapiência o desejo... escalar o Himalaia... Mas um ancião!?. A velhice em si já é um castigo, um acerto de contas, uma espécie de ante-sala para o nada.  Ambulâncias, jornalistas, padres, eleitores, ex-guarda-costas, sócios, cúmplices, mulheres falidas espreitando de longe. O teatro seria mais eloquente se o paciente levasse no colo pelo menos um dos livros de Dostoievski, Crime e Castigo, ou Humilhados e ofendidos, por exemplo. Mas ninguém lê nada, nem os presos, nem seus advogados, nem seus juízes e nem seus carcereiros. Todo mundo, no máximo, só quer turvar as águas para dar impressão de profundidade.... E é tudo farsa... Imposturas estampadas por todos os lados! Difícil encontrar diferenças reais entre o tal paciente e seus verdugos, entre os crimes do deputado ovacionado e os da turba... Enfim: só a ignorância e o horror progridem e prosperam! E la nave va!

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Rajneesh (o fantástico guru indiano) e os loucos e as loucas do Oregon... (anos 8o)


"Você não conseguirá me trapacear... eu sou o maior de todos os trapaceiros..."






http://www.youtube.com/watch?v=j1h8-WvzexY

E o mundo... vai se revelando cada vez mais contra o gozo & contra a vida... (como se a criação tivesse sido apenas o gesto de um sádico...)

Vírus da ‘doença do beijo’ pode causar outros 6 problemas de saúde



Por Da Redação
access_time 17 abr 2018, 22h25 - Publicado em 17 abr 2018, 20h23 

Vírus do HIV
Ao contrário dos outros vírus, o EBV consegue 'hackear' as células responsáveis por combatê-lo. (iStock/Getty Images)
doença do beijo, também conhecida como mononucleose, pode aumentar o risco de desenvolvimento de outras doenças, como a esclerose múltipla, lúpus e diabetes tipo 1. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature Genetics, o vírus responsável por causar a mononucleose é capaz de se ligar a partes do genoma humano, tornando a pessoa infectada mais vulnerável a essas doenças.

Mononucleose

A mononucleose é uma infecção causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV), transmitida pela saliva – por isso também é chamada de doença do beijo. Seus sintomas incluem dor e inflamação da garganta, febre alta, placas esbranquiçadas na garganta e ínguas no pescoço. O EBV pode provocar infecção em qualquer idade, mas é mais comum apresentar sintomas em adolescentes e adultos.
A mononucleose não tem um tratamento específico, mas é possível curá-la apenas com repouso, ingestão de líquidos e uso de remédios para aliviar os sintomas. Com essas medidas, a doença desaparece após uma ou duas semanas. No entanto, depois de infectada, a pessoa permanece com o vírus por toda a vida.

EBV e o aumento do risco de doenças

Ao longo dos anos, cientistas ligaram o EBV a algumas outras doenças raras, incluindo certos tipos de câncer do sistema linfático. Além disso, alguns dos pesquisadores já vinham estudando o vírus e fizeram conexões entre ele e o lúpus, por exemplo. Outras doenças relacionadas ao EBV descobertas durante a pesquisa são: esclerose múltipla, artrite reumatoide e artrite idiopática juvenil, doença inflamatória intestinal, doença celíaca e diabetes tipo 1.
Segundo os resultados da pesquisa, os cientistas perceberam que os componentes produzidos pelo vírus interagem com o DNA humano nos lugares onde o risco genético da mononucleose (e de outras doenças) aumenta. “Esta descoberta é importante o  suficiente para estimular muitos outros cientistas em todo o mundo a reconsiderarem este vírus nesses distúrbios. Como consequência, e supondo que outros possam replicar nossas descobertas, isso poderia levar a terapias, formas de prevenir e antecipar doenças”, disse John Harley, um dos autores do estudo, ao Science Daily. Apesar de não existir vacina contra o EBV, outras iniciativas procuram desenvolvê-la.

Atuação do vírus no corpo

Em infecções virais e bacterianas nosso sistema imunológico recebe o comando das células B para produzir anticorpos no intuito de combater os invasores. No entanto, quando ocorrem infecções por EBV, algo incomum acontece: esse vírus é capaz de ‘hackear’ as células B, assumindo o controle de suas funções e reprogramando-as. A equipe do Cincinnati Children, responsável pela pesquisa, encontrou pistas de como o vírus faz isso.
O corpo humano tem cerca de 1.600 fatores de transcrição conhecidos no nosso genoma. Estes fatores são proteínas que ajudam a transformar genes específicos em “ligados” ou “desligados” através da conexão com o DNA para garantir que as células funcionem como esperado. No entanto, quando os fatores de transcrição são alterados, as funções normais da célula também podem mudar e isso pode levar à doença. Os cientistas suspeitam que o fator de transcrição EBNA2 do EBV esteja ajudando a mudar a maneira como as células B infectadas operam e como o corpo responde a elas.
Com base nessas informações, os cientistas descobriram que, dependendo de onde esses grupos de fatores de transcrição relacionados ao EBNA2 se ligam no código genético, aumenta o risco de algumas dessas doenças. “Normalmente, pensamos nos fatores de transcrição que regulam a expressão do gene humano como sendo humanos. Mas, neste caso, quando este vírus infecta células, ele produz seus próprios fatores de transcrição, e estes se situam no genoma humano nas variantes de risco lúpico (e nas variantes de outras doenças) e é isso que suspeitamos estar aumentando o risco da mononucleose”, explicou Leah Kottyan, outra cientista envolvida no estudo.
Estas descobertas abrem novas linhas de estudo que podem acelerar os esforços para encontrar tratamentos que impeçam o vírus de atuar nas células, o que poderia levar a cura dessas doenças. Entretanto, os pesquisadores informam que será preciso muito tempo para alcançar esses objetivos. (Revista VEJA)

terça-feira, 17 de abril de 2018

O mendigo K e os garimpos...


"A beleza provoca o ladrão mais do que o ouro..."
Shakespeare

Desde às sete da manhã o mendigo K está sentado em frente ao STF, esperando o resultado da votação que, provavelmente, mandará o neto do quase presidente Tancredo Neves para o cárcere. Desse jeito, com todos esses malandrins sendo enviados para a cadeia, - me dizia - logo logo começará haver uma luta de classes também no interior dos presídios... 
Contou-me, em breves palavras, que antes de vir para Brasília, trabalhou num garimpo lá na Guiana francesa e também no Pará. E que ficou admirado com a relação dos garimpeiros com as prostitutas que por lá aportavam vindas de todos os cantos do Brasil, da Bolivia, do Peru, da França e até da Africa.... 
Aqueles pobres homens, sempre com uma cruz ou um patuá amarrado ao pescoço passavam meses para garimpar uma pequena lasca de ouro e quando o conseguiam, iam diretamente para os bordéis improvisados onde as mulheres, cinco ou seis, caiam sobre eles como abutres e até lhes juravam amor eterno. Passava lá uma semana, dormia com praticamente todas, o pedaço de oro desaparecia e ele voltava, magro, com uma boa carga de sífilis e mais ou menos feliz para o pântano do garimpo. Fez uma breve pausa e me perguntou com um tom solene: Quê escravidão é pior, a do ouro ou a do sexo?

Ideologia de gênero... (?)


"Cada um de nós é, sob uma perspectiva cósmica, 

precioso. Se um humano discorda de você, deixe-o viver. 

Em cem bilhões de galáxias, você não vai achar outro". 

Carl Sagan


Mudança de sexo em galos e galinhas

Quando a galinha deixa de botar e passa a cobrir as outras galinhas, como faz o galo, podendo galar as fêmeas, não é um comportamento comum, porém é observado por alguns criadores do setor avícola, podendo ocorrer também em outras espécies de animais.
Há registros também de casos em que o galo assume a postura da galinha, e passam a chocar os ovos e a cuidar dos filhotes. E da mesma forma do macho, a fêmea também chega a ter o comportamento do galo, podendo apresentar o que chamamos de falsa cópula, ou seja, quando pratica a monta em outras galinhas.
Em alguns casos também podem ocorrer alterações fisiológicas nas galinhascomo por exemplo, aumento da crista e da barbela, provocado pelo crescimento da gônada direita após o colapso do ovário funcional esquerdo, em decorrência de algum motivo como a incidência de tumores e cistos. O órgão direito que estava adormecido, pode começar a se desenvolver na forma de testículos e secretar hormônios ligados a características masculinas. Assim, a produção dos hormônios masculinos pode fazer com que a fêmea mude o comportamento e haja como um macho.
Porém, essa mudança que ocorre no sexo não é completa, visto que, a ave modificada não gera espermatozoides e dessa forma não fertiliza os ovos.




Como os galos perderam o pénis

O galo perdeu o seu pénis ao longo da evolução, assim como os machos de outras dez mil espécies de aves que têm pénis rudimentares ou não têm de todo. Agora, os cientistas conseguiram perceber o que se passa a nível do desenvolvimento embrionário do Gallus gallus: há uma morte celular programada que não permite que o seu pénis cresça. O artigo com a descoberta feita por uma equipa de investigadores do Instituto Médico Howard Hughes, em Maryland, nos Estados Unidos, foi publicado na revista Current Biology desta semana.
Apenas os machos de 3% de todas as espécies de aves desenvolvem um pénis capaz de penetrar na cloaca das fêmeas das suas espécies. Nesse grupo de espécies estão o pato, o ganso ou o cisne. Nas outras, a reprodução dá-se através do contacto entre as cloacas dos machos e das fêmeas.


Martin Cohn e a sua equipa foram tentar perceber o que acontecia durante o desenvolvimento destas aves. Para isso compararam os embriões dos galos com os dos patos-bravos durante o seu desenvolvimento.
“A regulação e o balanço entre a proliferação das células e a morte celular é essencial para controlar o crescimento e o desenvolvimento”, explica o cientista em comunicado. “Demasiadas divisões celulares e pouca morte celular podem levar ao crescimento em excesso ou desregulado, como no caso do cancro. Se o balanço vai na direcção contrária e há uma deficiência celular ou excesso de morte celular, então isso pode resultar no subdesenvolvimento ou até na ausência de um órgão.”
Quando olharam para o desenvolvimento das duas aves, verificaram que no início, o desenvolvimento do pénis acontecia normalmente nos galos. Mas a partir de uma dada altura esse crescimento parava e o órgão tornava-se rudimentar.
A equipa descobriu que este fenómeno era causado por um gene que se activava na ponta do futuro pénis do embrião do galo, o que não acontecia no pato-bravo. O gene, chamado Bmp4, codifica para uma proteína que leva à morte celular não deixando o órgão crescer.
“A nossa descoberta mostra que a redução do pénis durante a evolução das aves ocorre pela activação de um mecanismo normal que resulta no programa de morte celular, mas que aqui aparece num local novo, a ponta do pénis emergente”, explica Martin Cohn. Os cientistas experimentaram ainda impedir a expressão deste gene naquela região do embrião do galo e verificaram que os pénis cresciam normalmente nos embriões mutados.
A equipa não sabe qual a razão para este fenómeno ter surgido durante a evolução. O pénis é talvez o órgão com mais variações e com as formas mais bizarras entre os animais do reino animal. O gene Bmp4 é muito usado na formação dos órgãos e estruturas durante o desenvolvimento embrionário, e poderá ter aparecido aqui por acaso, não se obtendo nenhuma função objectiva. Mas a equipa sugere um resultado benéfico a nível destas espécies de aves em que os machos não têm pénis: como a fecundação se dá sem penetração, as fêmeas acabam por ter um maior controlo na escolha dos seus parceiros.