domingo, 26 de novembro de 2017

Cuidado! O martírio voluntário não será tomado em consideração no além...

Neste período do ano Brasília fica congestionada de mendigos, indigentes, andarilhos, vagabundos, desocupados, famílias em trânsito, malandros e lazarones, fodidos crônicos da pátria que vêm de todos os cantos, uns expulsos pelas 'autoridades' de lá, e outros já viciados no folclore do natal que aproveitam da melancolia urbana e da culpa dos burgueses  para vir recolher restos, sobras, esmolas e outras porcarias. Normalmente se instalam em barracas, em pontos estratégicos da cidade, próximos à caçambas ou lixeiras de supermercados e ficam por lá, como "hienas", com suas "hienazinhas" nos braços, aterrorrizando os casais ou as senhoras sozinhas que voltam da igreja, do cabeleireiro ou mesmo de um trottoir dominical extra. Há mais de quatro semanas ali pelos lados da rodoviária fica instalado um homem de uns 60/70 anos que está com um parkinson em estado avançado. Seus braços, pescoço e pernas estão em permanente agito e até agora nenhum doutor e nenhuma autoridade foi lá para, sequer, saber seu nome... 
Muita gente, lembrando da história de Lázaro, da desertificação social, do crepúsculo de suas próprias fantasias e de outras misérias, se sente obrigada a dispensar-lhes pelo menos um "Feliz Natal & um próspero ano novo!" Mas é visível o incômodo burguês, mesmo daqueles travestidos de 'apóstolos' quando lhes dão alguns míseros centavos que estavam perdidos no fundo do bolso ou da madame que desce do quinto andar para presentear-lhes com uma bandeja de presunto e queijo cuja validade expirou ontem... 
Hoje, dia 26, com a cidade molhada pelo chuvisco da madrugada, havia um desses andarilhos rondando uma lixeira aqui pelos arredores de minha quadra e, bizarramente, levava uma cruz às costas. Antropológica e esteticamente a imagem era fantástica. Era uma cruz feita de maneira artesanal, dois galhos de aroeira sobrepostos e amarrados firmemente com meio metro de arame. Devia pesar uns vinte quilos e o sujeito, que a transportava além de ser só ossos, ainda tinha no rosto uma expressão de máximo sofrimento. Soltava até uns breves soluços e gemidos quando percebia que alguém o observava. Um senhor de paletó marrom, meio gagá, típico funcionário público aposentado que cruzou com ele e que ficou visivelmente emocionado, deu-lhe uma nota de vinte reais e o alertou: “ Cuidado!, o martírio voluntário não será tomado em consideração no além..."

Um comentário:

  1. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2017/11/27/interna_cidadesdf,643576/mais-de-67-mil-familias-do-distrito-federal-vivem-em-extrema-pobreza.shtml

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