quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Condomínio / Sendomínio

Toda a palavra pronunciada é falsa. Toda a palavra escrita é falsa. Toda a palavra é falsa. Mas o que existe sem palavras?
Elias Canetti



Todo mundo pensa romanticamente que Brasília é a Capital do Ipê, (branco, amarelo, lilás e etc) mas não é bem assim não, ela é mais a Capital dos condomínios do que outra coisa e mais um projeto de urbe presidido solenemente por síndicos. Síndicos quase sempre jovens, afetados e dispostos a "vencer na vida" a qualquer custo que passam o tempo das reuniões nos celulares ou então por velhotes aposentados que entre uma "pauta" e outra vão ao banheiro tomar uma segunda dose de Losartana Potássica.
Ontem passei das 8 à meia noite numa dessas reuniões que inicialmente, pela linguagem e pelo teatro até se parecia às do STF ou às da FAO, mas que logo descambou para uma lenga-lenga de boteco que não tinha fim. Naquelas 4 horas de lamentações, de pompas e de um delirante onanismo coletivo para que vejam, não conseguimos sequer decidir a cor e nem o tamanho do trinco de um portal em ruínas... 
Ah!, aquilo sim que é um "laboratório" perfeito para se entender  tanto as armadilhas das palavras, como as razões de nosso naufrágio como país e, claro, as razões de nossa desgraça como pessoas. Mesmo travestida com aquele jeito de STF ou de reunião de sindicato (com alguém insistentemente levantando o braço e repetindo: "por uma questão de ordem, Sr. presidente"), nenhuma fala conseguia chegar ao fim e era muito mais um desvario de monólogos do que um diálogo. 
E a questão do trinco (a única coisa que me interessava) até que estava sempre presente, mas apenas como álibi, uma vez que as discussões logo descambavam para a prestação de contas dos síndicos anteriores ou até mesmo para uma possível e futura sindicância a respeito da quantidade de sal e de bacalhau gasta por Cristóvão Colombo em suas últimas e suicidas andanças pelos mares do sul.

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