quarta-feira, 14 de agosto de 2013

DO HOMEM... essa besta sanguinária!

Não posso negar que tenho a maior simpatia por aqueles que pretendem defender incondicionalmente aos animais, principalmente por aqueles que se opõem aos sacrifícios dos bichos em rituais religiosos. Entretanto.., porém.., de certa maneira.., também não nego que percebo nesta luta algo de ingenuidade, de singeleza, de ilusão e até de inutilidade, tendo em vista a carnificina sistemática que nos cerca. 
Não nego que acho essa sangueira irremediável, que uma voz insistente vinda diariamente dos açougues e dos matadouros me convence: de nada adianta salvar um bode agonizante e com a garganta cortada numa esquina de macumba, se no mesmo instante, uma centena deles por aqui está sendo formal e oficialmente degolada... De nada adianta salvar a galinha ou o galo preto que está ardendo em chamas na porta de um cemitério ou sobre uma tumba, se na mesma hora milhares ou até milhões deles estão sendo degolados sob encomenda ali nas granjas...
Realmente não vejo diferença alguma entre matar em sacrifício e matar de forma industrial, ambas são abomináveis, covardes, nojentas e despossuídas de qualquer vestígio de dignidade. Mas sei, tenho consciência o bastante para saber que nossa condição é precária, irremediavelmente ambígua e terrível. Vejam que situação paradoxal, para não dizer esquizoide: a mesma pessoa que se derrete em afetos e em carinhos quando passo com meu cachorro, é a mesma que meia hora depois está encomendando ao garçom um filhote de ovelha ao forno, um frango no espeto ou uma costela de leitoa na brasa. Os médicos, sem cerimônias, nos recomendam aumentar a ingestão de proteínas animais; o padre que fala em Santíssima Trindade, em jejum Pascal, em corpo disto e corpo daquilo, interrompe a missa para convidar os beatos a uma churrascada dominical; e a delicada velhinha do quiosque da quadra que parece a mais zen das criaturas, serve um prato feito com puro sangue de porco... 
Esperar o quê dessa gente? Dessa gente que não percebe sequer que a nossa carne é a parte animal de nosso ser!
Dessa gente que tem o cinismo de sair por aí falando em espiritualidade, em salvação da alma, em ética, em humanismo, em teologia e em solidariedade? Como conviver com essa turba que, com os lábios ainda sangrantes, está sempre cacarejando sobre as Belezas da criação, sobre a transcendência, sobre o Reino dos céus e até mesmo sobre a metempsicose? E tudo, segundo eles, com aval divino.  Quanta bufoneria e quanta patifaria! E que aterrorizante essa submissão aos caprichos e aos desejos das tripas! 
Qualquer divindade, qualquer santidade, qualquer demônio ou demiurgo que, como reconhecimento, nos exigisse o sacrifício de qualquer outro ser, fosse de uma ameba ou de um coelho, seria um monstro desprezível e deveria ouvir nossa imediata recusa. 
E é terrível e melancólico ver que o discurso dominante se transforma em discurso dominador!, mesmo sendo pobre, reacionário, desvalido e muquifário. E é quase cômico ver um mundo com o ventre e com o baixo-ventre proeminentes falando em compaixão, em piedade e até fazendo poesia com meio quilo de costela se decompondo no meio das entranhas. A propósito, parafraseando a Adorno, que achava um absurdo seguir fazendo poesia depois de Auschwitz, pergunto: como é possível tentar poetizar e romantizar o mundo com os dentes ainda salpicados de fiapos, de banhas e de sangue?

5 comentários:

  1. uma vez, quando estourou (de vez em quando estoura!) no Youtube alguém que filmou alguém chutando um cachorrinho porque o mesmo fizera cocô no chão, comentei que crucificar a mulher que chutara o cachorro num momento de histeria era uma hipocrisia, que fazer BO e chamar o Ministério Público por causa duma merda dessas enquanto os ladrões no poder roubavam na caradura o dinheiro dos impostos, era uma hipocrisia; cheguei a comentar algo parecido com o que foi escrito neste post, claro sem o talento que o autor do mesmo tem; falei com minhas palavras, que beira a elegância literária de um estivador de beira de cais. Me xingaram no Youtube, me ameaçaram de processo (uma ONG ou dessas associações defensoras de animais que todo domingo faz uma churrascada). E a ameaça de processo contra mim aumentou quando falei que quando era criança matava passarinhos com fundas, botava ninhadas de gatinhos dentro de um saco jogado ao mar só para vê-los morrer afogados.Naturalmente, nenhuma ONG ou Associação me processou. São uns merdas!Porém o Youtube me mandou um aviso para eu maneirar nos comentários. Respondi ao Youtube: FODA-SE! Este Brasil é uma merda, quero morrer o quanto antes.

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  2. Ezio Bazzo, seu artigo me provocou de tal maneira que acabei me tornando vegetariana a partir de ontem, depois de lê-lo, e espero que a decisão perdure. Antes eu xinguei você muito (rsrsr), porque é claro, sou uma pessoa comum. Também, não consegui deixar de escrever sobre o assunto e publiquei no veusdemaya.com. Abraços

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    1. Maria Helena, que ótima notícia essa de sua "conversão" para o vegetarianismo!!! Saiba que você é mais uma pessoa que se junta ao time que está fazendo uma real diferença entre discursos e ação direta pela vida! Quando me tronei vegano (filosofia que defende QUAISQUER formas de vida sob situação de crueldade e exploração, humanas e não humanas) em 2012 foi como "renascer" e abdicar das tradições, costumes e crendices que me foram impostas pelo estado, religião e educação formal. Hoje sou ativista dos Direitos Animais e Sustentabilidade e tenho, junto com minha companheira, Maria Castellano, o COMO? Espaço Educador Vegano, onde colocamos em prática tudo o que é possível para uma vida de compaixão e generosidade com a vida. Desejo que você se dê esse direito de sair das prisões impostas pelo Capitalismo- Consumismo- Carnismo. Essa tríade é a que está levando a humanidade para um caminho de indiferença, violência e insustentabilidade com nossas vidas, a vida dos outros seres e consequentemente com a vida do próprio planeta. Saudações vedes para você e para as suas novas escolhas de vida! Não desista nunca desse caminho!!!! Você terá grandes surpresas e vai descobrir quem são as pessoas que estão à sua volta. Abraços, Cabeto Rocker Pascolato, Campinas/SP

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  3. Tenho um pé na ingenuidade e um pé na vida como ela é: culpa de ser humano, muito sofrimento, nenhuma espiritualidade para me convencer que esse estágio é o mais evoluído e a certeza de que nada leva a nada. Mas, um que seja salvo da bestialidade humana vale a pena, pelo menos para minha consciência hipócrita já que hipócrita somos todos. Fecho com a ingenuidade dos animais e gostaria de vê-los destruir cada humano, pena que a minha ingenuidade é cíclica e perene...

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  4. Todos somos, em certos momentos, niilistas, psicopatas, sádicos, perversos, indiferentes ao sofrimento, à desgraça alheia. Por isso que estou com saudade de me locupletar numa boa churrascaria...

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