sexta-feira, 26 de julho de 2013

Borges... e seu Aleph...

No Tomo I da Obras Completas de J.L.Borges (EMECÉ/Barcelona), p.534, está o livro El Aleph, (Aleph com h) igual a primeira letra do alfabeto hebraico e diferente da grafia que se usa para denominar a milenar cidade síria Alep, cidade de onde há séculos os marselheses piratearam a fórmula do sabão que hoje é o famoso Savon de Marseille. Segundo o genial bibliotecário argentino, um Aleph é um dos pontos do espaço que contem todos os pontos. Mas isto tudo é bobagem, um pretexto para citar aqui alguns fragmentos do referido texto que sublinhei no passado, durante sua leitura:

"Pensé en un mundo sin memoria, sin tiempo; consideré la posibilidad de un lenguaje que ignorara los sustantivos, un lenguaje  de verbos impersonales o de indeclinables epítetos"...

"Otro es el río que persigo, replicó tristemente, el río secreto que purifica de la muerte a los hombres"...

"Después vi que es absurdo imaginar que hombres que no llegaram a la palabra lleguen a la escritura"...

"Adoctrinada por su ejercicio de siglos, la república de hombres inmortales había logrado la perfección de la tolerancia y casi del desdén. Sabia que en un plazo infinito le ocurren a todo hombre todas las cosas. Por sus pasadas o futuras virtudes, todo hombre es acreedor a toda bondad, pero también a toda traición, por sus infamias del pasado o del porvenir"...

"Como todo poseedor de una biblioteca, Aureliano se sabía culpable de no conocerla hasta el fin"...

"El tiempo no rehace lo que perdemos; la eternidad lo guarda para la gloria y también para el fuego"...

"Mi abuela habia salido a cazar; en un rancho, cerca de los bañados, un hombre degollava una oveja. Como en un sueño, pasó la índia a caballo. Se tiró al suelo y bebió la sangre caliente"...

"Cualquier destino, por largo y complicado que sea, consta en realidad de un solo momento: el momento en que el hombre sabe para siempre quién es"...

"No me interesa lo que un hombre pueda transmitir a otros hombres; como  el filósofo, pienso que nada es comunicable por el arte de la escritura"...

"Yo me creía capaz de apurar la copa de cólera, pero en las veces me detuvo un sabor no esperado, el misterioso y casi terrible sabor de la felicidad"...

"Que el cielo exista, aunque nuestro lugar sea el infierno"...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Habemus Papam...

Dizer que a vinda do papa está sendo um fiasco é dizer o óbvio! E isto, apesar do esforço imenso da mídia, dos pelegos e dos hipócritas de plantão estarem fazendo de tudo para transformar o fiasco em grandiosidade. O pontífice é fraco! Sua coreografia não ajuda e seu discurso não convence nem mesmo o rebanho já entorpecido e enfiado no brete. Qualquer um dos nossos farsantes e malandros pastores evangélicos daria um show melhor. E depois, foi logo confessando que não trazia ouro e nem prata, apenas Cristo. Ora!, quem é que vai interessar-se por um negócio desses!? Num país movido a malandragem, a prevaricação e à corrupção uma declaração dessas desanima geral. Essa história de trocar bíblias e santinhos por diamantes, ouro, pedras preciosas e outras riquezas naturais, praxe de todas as igrejas, já não funciona tão bem como outrora! 
Sobre a fragilidade e os disparates da segurança e da recepção governamental, nem preciso falar. Se alguém tivesse intenção de apagar o visitante, poderia tê-lo feito com uma funda e duas ou três pedras, como David... Já o beijaço dos gays em frente a igreja Nossa Senhora da Glória como protesto, foi tão infantil e melancólico quanto a espera dos beatos pelo salvador. Uma.., digamos, manifestação de prurido anal contra uma ficção espiritual! 
Somos ainda muito pobres! Bem pobres! Mesmo quando de nossas malas transbordam títulos, libras e jóias, nossa pobreza mental é indisfarçavel. Precisamos de tempo, de muito tempo para transcender essa espécie de indigência moral. E não há outro caminho a não ser investir no Primeiro Grau. O Segundo e a Universidade são um luxo. Acreditem: toda nossa tragédia psico-mental e social tem suas raízes num Primeiro Grau vagabundo e precário.

sábado, 20 de julho de 2013

Oxalá, o suposto despertar não seja apenas uma crise de sonambulismo...

Quem assistiu a "reunião de emergência" no Rio de Janeiro entre o governador, o chefe da polícia, o chefe da OAB, um general do exército e outros especialistas em "manter a ordem pública" ficou boquiaberto com a limitação mental desses homens. Parece que estão com o cérebro enterrado na areia movediça!!! É impressionante como não conseguem pensar algo novo! Deixar a mente e as idéias fazerem outro trajeto! Olhar o mundo e as coisas por outro ângulo! Só sabem raciocinar com a lógica dos velhos e broncos portugueses quando precisavam pisotear os Carijós que ocupavam a praia do Flamengo ou os Tupinambás no sopé do Pão de Açúcar. Ao invés de discutirem formas de atender imediatamente as reivindicações dos "vândalos" (já que elas são todas pertinentes, lógicas, verdadeiras, inquestionáveis),  ficam tentando descobrir  formulas novas e policialescas para manterem-se no poder e para sufoca-los, inclusive, com um conceito de anarquismo mais retrógrado e estúpido que o dos velhos Czares da era pré Dostoievski. Inacreditável! Tão inacreditável como o argumento do governador, de que os "vândalos" e a quebradeira estão sendo incentivadas do exterior.  Ora! Todos sabemos (e isso nos causa vômitos) que o poder que uma governança possibilita a esses crápulas, aqui nos trópicos, é demasiado, e que o narcisismo desses homens é tão desmedido e desprezível que não os deixa ver que quem incentiva todo e qualquer tipo de violência no país são eles. Sim, eles, esses Zés ninguém que de uma hora para outra viraram "autoridades" e que com seu cinismo desbragado vivem como se fossem gerentes tribais ou monarcas... Cada um com sua tirania impotente... 
E o papo transcendental do general do exército, que está organizando a proteção do papa!?!? Também é inacreditável que os milhares e milhares de soldados do exército, saudáveis e bem alimentados, (ao invés de passarem o dia inteiro marchando dentro dos quartéis, lustrando metralhadoras e preparando-se para uma  fictícia guerra com a Bolívia ou com a Argentina, no porvir, e que poderiam estar há muito tempo construindo estradas de ferro de Foz do Iguaçú à Manaus) se prestem a sub-tarefas sem sentido como as de proteger campeonatos de futebol ou passeios turísticos de chefões religiosos. Duas das principais usinas do epidêmico subdesenvolvimento nacional... 
Enfim, tomara que não estejam enganados aqueles que, vendo as fogueiras, as bombas, os gritos, o tiroteio, o estalido das vidraças do Leblon, o cheiro de gasolina, os bancos depredados... acreditam que o país  despertou de sua catalepsia esplêndida... 
De minha parte, vendo as estratégias desses senhores e o Congresso Nacional em férias, tenho dúvidas.... Oxalá, estejamos realmente diante de um despertar, e não de mais uma banal crise de sonambulismo.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A VINDA DO "REPRESENTANTE DE DEUS" AO RIO DE JANEIRO (3)


Já na próxima semana o Papa porteño aterrissará na sodoma tropical para cumprir com um compromisso do outro, o alemão, aquele que foi compulsoriamente aposentado. Para ele, acostumado às chuletas argentinas e a sapatear tangos nas sacristias de Buenos Aires, a putaria sócio-política do RJ não será novidade nenhuma... Apenas o cristo de concreto terá que dividir, por uns dias, o reino, o pedestal e o comando daquele bordel alucinado.  Carnaval, beatos acardumados, clonazepam e futebol! Oxalá os manifestantes de ontem estejam ainda por lá, para dar-lhe as boas vindas! 
Para qualquer profissional da saúde mental deveriam ser extremamente preocupantes as manifesta
ções febris e neurótico-religiosas que temos assistido por parte das caravanas de jovens peregrinos que irão recepcionar o pontífice... Até onde e até quando suportarão essa farsa, essa encenação e essa ficção com as bobagens e com os mestres do além? Se hoje o vaticano é processado no planeta inteiro por pedofilia, amanhã o será por acosso moral e por ter empurrado jovens e velhos aos labirintos e abismos da religião, da fé, da crença e do delírio messiânico. Induzir uma criança à religiosidade, seja ela qual for, - repito - é uma irresponsabilidade e um crime tão vil como induzi-la à lascívia ou ao crack.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A VINDA DO "REPRESENTANTE DE DEUS" AO RIO DE JANEIRO... (1.)

[A escolha que temos pela frente é simples: podemos ter uma conversa do século XXI acerca da moral e do bem-estar humano - uma conversa na qual recorremos a todas as descobertas científicas e argumentos filosóficos acumulados nos últimos dois mil anos de discurso humano - ou então podemos nos confinar a uma conversa do século I, tal como preservada na Bíblia. Por que alguém haveria de querer adotar a segunda opção?] Sam Harris.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Dante... e a escoria do mundo...

Nesta sexta-feira ensolarada resolvi acompanhar novamente a Dante e a Virgilio pelas estradas da Divina Comédia escrita em 1300 e pouco. Transitar por essa bravata italiana é redescobrir o quanto ela, mais que a Bíblia e que outros textos cabalísticos e apocalípticos juntos influenciaram as crenças, a religiosidade e o horror da condenação entre os ignorantes, bem como a estética do diabo e do inferno. Contento-me com os primeiros XXXIV Cantos referentes aos nove círculos infernais.
No Primeiro Círculo estão as crianças e outros seres que não foram batizados, inclusive, muitos poetas do calibre de Ovidio, Homero, Horácio etc. Também alguns pensadores como Galeno, Hipócrates, Orfeu, Euclides, Demócrito, Sêneca e etc.
Mais a frente, no meio de ranger de dentes e de uma terrível ventania Dante enclausurou aquelas almas que em vida se entregaram à luxúria, à putaria e à lascívia, como Cleópatra, Helena, Páris e Tristão, Francesca de Rimini e outras vítimas do amor... No Terceiro Círculo, sob uma chuva de granizo e neve com odor pestilento estavam os gulosos, atormentados, segundo Dante  por um cão de nome Cérbero. Mais adiante, os pródigos e os avarentos, condenados como Sísifo a transportar pedras de um lado a outro e, pior, a se injuriarem mutuamente. No quinto círculo, aos gritos de horror, estão os irascíveis. Ali, inclusive, Dante encontra um de seus velhos inimigos. O sexto círculo, segundo o narrador, é o lugar mais fundo e mais infame, o mais distanciado do céu, lugar onde estão heréticos da categoria de Judas. A descida de Teceu aos infernos para resgatar Proserpina, parece ter acontecido nesse lugar. Epicuro e outros que professaram a doutrina da morte da alma junto a do corpo estavam ali em tumbas incendiadas... E a caminhada parece não ter fim, com os círculos lotados de hipócritas, aduladores, falsários, rufiões, mistificadores e etc. todos boiando em sangue fervente. Os suicidas são transformados em árvores. Aos sodomitas Dante reserva o terceiro recinto do sétimo círculo no meio de fogueiras. E a caminhada prossegue. Lá estão os que cometeram fraudes, os que cometeram crime de simonia, que eram muitos, (enterrados de cabeça para baixo); os mágicos, os adivinhos e os farsantes. Os corruptos e os prevaricadores estão na quinta vala do oitavo círculo. Os hipócritas e os ladrões, enclausurados em grossas capas de chumbo ocupam a sexta vala do oitavo círculo. Os falsos conselheiros se encontram na oitava vala. Por fim, no nono círculo, estão os traidores da pátria enfiados no gelo até a cintura...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Uma nova modalidade de protesto... ainda mais estéril que as outras...




Gandhi, com suas teorias de não-violência, apesar de ter sido assassinado em 1948, continua fazendo discípulos por aqui. Hoje, quando o sol se pôs - por coincidência, no início do Ramadã -  uns 50 pacifistas se postaram em silêncio e em posição de lótus em frente ao Congresso pedindo, entre outras abstrações, paz., no exato momento em que lá no interior do parlamento, entre orgias partidárias, se votava pela permanência dos suplentes de senadores, uma das muitas perversões da república...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Somos o único país do mundo a ter um muquifo chamado Favela da rola...

Encontrei o mendigo K. no meio de milhares de prefeitos que estão na cidade reclamando seu quinhão. E não estava mendigando e nem querendo comover a terra com suas lágrimas, pelo contrário, estava mais do que eufórico. Já percebi que para quem vive a solidão da indigência e que está habituado a um silêncio povoado de misérias qualquer manifestação dá a ilusão de uma tomada da Bastille ou de um festim dionisíaco. Quando nos vimos estava em frente ao Congresso Nacional falando com o prefeito de um dos tantos municípios mambembes que há por esses cafundós afora. Fez questão de apresentar-me e anunciou: estava, aqui em frente a essa casa de penhores, dizendo ao doutor (referia-se ao prefeito) que nosso país é o único do mundo a ter um muquifo chamado Favela da rola... e explodiu numa gargalhada, uma explosão daquelas cuja insalubridade bucal fica completamente exposta. E antes mesmo de recuperarmos o fôlego foi metralhando: 
 E os bagulhos apreendidos!? As campanhas em contrário, não têm servido para coisa nenhuma... parecem até estar incentivando o consumo... Só neste domingo foram duas toneladas de maconha e trezentos quilos de cocaína, bem aqui sob as pupilas do establishment republicano e de um policiamento pra lá de exagerado. Duas toneladas de canabis e trezentos quilos de pó! Se eu não fumo, vocês também não, nossos vizinhos idem, os burocratas nem pensar, os ministros e parlamentares nem conhecem o cheiro, os pais de família são abstêmios, as moças de família só bebem Martini branco, doce e sensacional... quem é, afinal, que queima todo esse fumo e que cheira todo esse pó? Duas toneladas, vocês sabem, são dois mil quilos... De onde advém essa necessidade de volúpia alucinatória e de embriagues? Quem foi o primeiro a descobrir que o cérebro fica como uma cortesã quando sente o cheiro da fumaça ou a leveza do pó? 
Ah.., mais injustiçada que a plantinha da maconha só mesmo a papoula do ópio! Duas singelas relíquias do mundo da botânica que viram literalmente o mundo de pernas para o ar... Sabiam que o elixir paregorico de nossa infância tinha algumas centelhas de ópio? Por pouco nossas velhas avós não trataram nossas cólicas  com heroína..! O dr. conhece o famoso Triângulo do ouro? Pergunta ao prefeito. Sem mostrar nenhum interesse pela resposta foi logo agregando, com uma indisfarçável chispa de cinismo: vale a pena desviar o dinheiro de mais uma ou duas pontes e ir passar uma semana lá na fronteira entre a Tailândia, a Birmânia e o Laos... 

domingo, 7 de julho de 2013

Do voyerismo gringo e de nossa letargia...

"Da interjeição em todas as notas da escala à obcenidade palavrosa e retumbante".
A. F . de Sampaio

Tímida e quase débil a reação do Brasil às notícias de que o governo norte americano espionou quase dois bilhões de mensagens e telefonemas em nosso território. Por incrível que pareça, muita gente até defendeu essa patifaria e se sentiu importante sendo monitorada pelos tiras do império. E não vai aqui nenhuma usafobia, pois mesmo que esse voyerismo policialesco tivesse sido praticado pelo Haiti, ou pela Ruanda, seria abominável. Claro que desses bilhões de interceptações, 98% foram bobagens, papos de domésticas, brigas de casais, futilidades, discussões sobre futebol, sobre os evangelhos, sobre pagodes, sobre coleção de sapatos, sobre a ida semanal ao motel, sobre a vinda do Papa, sobre a FLIP e sobre outras besteiras do gênero que não servirão para nada e para ninguém. Mas... mas...
Se a internet e o mundo dos computadores continuar servindo para o cinismo e para a indiscrição desses paranóicos, é bem provável que num dia, não muito distante, o santo Bill Gates será escorraçado e a tumba sagrada de Jobs pisoteada...
(Ilustração: El Roto)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Albino Forjaz de Sampaio e a máscara... (do livro: Lisboa trágica)

"Vautrin ( personagem de Balzac na Comedia Humana ), consultado sobre o necessário para vencer, responder-vos-ia: Para vencer, é necessário em primeiro lugar uma boa máscara. Depois eloquencia, desembaraço, prontidão e sangue frio. Todos os requisitos de um bom bandido.
Não se trata de máscaras de cartão, de seda ou de veludo, encobridoras de desconhecidas gentis, misteriosas e fatais. Nem da dos embuçados espadachins das vielas da Lisboa antiga; nem da dos penitenciários, sombria e misteriosa; nem da dos conspiradores. Não é de nenhuma dessas. A máscara de que se trata é esta que todos trazemos afivelada, que simula e dissimula e finge e se mascara - a fisionomia humana.
A palavra é a máscara da idéia, como a veste é a máscara do corpo. A promessa é a máscara da recusa e a esperança a máscara da desilusão. Se a vida é luta, a máscara é arma.   Uma das mais engenhosas e sutis armas de ofensa e de defesa, mais eficaz do que o canhão, mais sutil do que o punhal e mais contundente do que o box. Os antigos gladiadores, quando os empurravam para a luta, recebiam uma espada curta para se defenderem. Pois bem! O destino, quando nos empurrou para a vida, deu-nos uma arma - a máscara. Saber fingir como um comediante consumado, saber mentir sorrindo, tendo a máscara forrada de lágrimas e presa por soluços; saber chorar, tendo cócegas na alma e gargalhadas nos ouvidos, é o ideal. A força deu lugar à astúcia. Hércules curva-se ante a lábia penetrante de Tartufo, de maneira que é Tartufo quem reina agora. A ciência da vida é saber representar. Toda máscara mente, toda. Desde a dos padres à dos reis, e desde a de Cristo à daquele vilão ruim, vilão pôrro, como lhe chamava Antonio Prestes, porque toda a máscara tem mais mentira, mais vileza e mais impudor do que a própria Bíblia.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Moneycracy...

Está todo mundo meio histérico e até "comovido" com as contas, os papéis e a contabilidade do Eike Batista! A mídia não fala em outra coisa além dos bilhões desse senhor. Será que em breve teremos mais um mendigo na praça!? Os vassalos e os puxa-sacos estão angustiados, pois se o chefe ruir podem perder suas mamatas paralelas. Os miseráveis de plantão idem, pois seriam privados das migalhas que eventualmente despencam dos altares e dos banquetes. E a classe média, como sempre, curtindo aquela felicidade plena e insana que brota dos subterrâneos da inveja.  
Para entender a bizarrice do capitalismo, imagine-se sobrevoando o planeta e vendo os sete bilhões de terráqueos, cada um cercado por suas posses e por seus bens.  Nós ao lado de nossas dívidas e de nossa bicicleta; outros no meio de suas tralhas; outros no meio de suas panelas e de seus vinte palmos de terra; outros no meio do nada... e OUTROS, cercados por lingotes de ouro, latifúndios, edifícios, frotas de aviões, redes de hotéis, montanhas de Libras, poços de petróleo, garimpos de diamantes... 
Mesmo assim,  as hienas de sempre, arrastando incansavelmente suas correntes, seguem insistindo que os ricos não entrarão nos Reinos dos Céus e que vivemos numa democracia plena!
Bah!!!
Prossigo em minha leitura de A.F.S: [ A máscara é pois, hoje, nestes tempos de diplomacia astuciosa e de solércia sabida, a melhor arma que o homem pode ter. Saber simular e dissimular, eis tudo. Tudo hoje se disfarça. Tudo é mentira. As aparências não são mais do que simples aparências. Um lord por fora é quase sempre um ladrão por dentro, assim como um filósofo por dentro é como um pobre ladrão por fora...]

terça-feira, 2 de julho de 2013

Da alma, da personalidade e de outras cláusulas pétreas...

Até o Papa argentino resolveu agora apoiar as manifestações no país e com o argumento quase cretino de que elas são coerentes com os evangelhos. Estaria se referindo aos evangelhos segundo Kropotkin? Ora, se todo mundo, desde os banqueiros, os políticos e até a Santa Sé, está a favor das manifestações, de que, de quem e a quem é afinal que os manifestantes estão se queixando? Desse jeito não demorará muito para começarem a aparecer cartazes colocando a culpa ao diabo por todas as nossas desgraças nacionais...
E com quase o mesmo despropósito se está propondo um plebiscito nacional. Querem agora induzir as massas a opinarem sobre o que não conhecem e a indiretamente se comprometerem com as futuras roubalheiras.  
Dinheiro público ou dinheiro privado nas campanhas? 
Nenhum! As campanhas são sempre perversas, demagógicas e inúteis.  Que favoreçam mais ou menos a este ou àquele candidato, é o de menos, são sempre o mesmo engodo. 
Voto proporcional, voto misto, distrital ou etc? 
Nenhum! 
Somos contra o voto. Primeiro, porque os eleitores ainda continuam confinados em imensos currais (físicos ou psicológicos) e segundo, porque, como dizia o bigodudo Stalin, ganham as eleições sempre aqueles que contam os votos... 
Acabar com o voto secreto no congresso? 
Não apenas o voto secreto, mas a própria pergunta são infames!
Acabar com o suplente de senadores?  
Ora,  o que deve ser colocado em xeque nem é a existência do suplente, mas sim o papel e o sentido da função do próprio senador...
Ah, mas estes são pilares fundamentais da República, não podem ser extintos!!! murmuram desde os porteiros de prédios até os ex presidentes... Bom, então que se jogue a própria República no lixo e que se invente outra maneira de administrar as nações... É quase inacreditável que depois de Platão não se tenha conseguido engendrar nada mais digno e inteligente do que isso que está aí...
E se realmente quiserem, por razões obscuras, fazer um plebiscito, como se ele fosse uma espécie de aurora boreal, então que façam uma única pergunta às massas: "Nascer, foi ou não foi a maior furada?"
(Ilustração: El Roto)