segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O mofo da história...


Para escalar a ladeira que leva à igreja de Santa Efigênia - orientava a camareira - é necessário mover-se como fazem os burros, isto é, em ziguezague. E completou explodindo  numa gargalhada: quem subir até lá sem ter um infarto do miocárdio e ainda por cima, conseguir ter uma ereção completa nos dois ou três dias seguintes, pode estar certo de que está livre da indústria cardiológica e também da indústria do viagra...
Por coincidência encontrei um primo do mendigo K., nas escadarias de um dos museus da cidade. Como é de praxe naquela família, estava meio taciturno, com os cabelos esganiçados e lançando mísseis para todos os lados. Dizia a uma pessoa jovem que o acompanhava que, no caso da ocupação portuguesa de Ouro Preto, os índios agiram como "resistência" (se negando a trabalhar para os invasores) e os negros, pelo contrário, como "colaboracionistas"...
Sem preocupar-se com a presença do guia, um homem formalmente analfabeto, mas ao mesmo tempo, uma verdadeira enciclopédia histórico-ambulante, foi torcendo o nariz e apontando para os objetos sacros do local, para móveis antigos, chicotes, pinturas da corte portuguesa nas paredes, balaústres, figurantes com espartilhos, bengalas com cabo de prata, oratórios usados tanto pelos larápios monarquistas daquele período como pela escória que era mantida nas senzalas... e proclamando: - É preciso livrar o passado e a história de toda essa velharia e de todo esse mofo!!! 
Fez um silêncio e continuou: Neste particular, confesso que sempre fui adepto de Marinetti: [Yo os he enseñado a odiar las bibliotecas y los museos, para prepararos a odiar la inteligencia... El arte es una necesidad de destruirse y de desparramarse, gran regadera de heroismo que inunda al mundo. Los microbios - no lo olvides - son necesarios para la salud del estómago y del intestino. También existe una especie de microbios necesarios para la vitalidad del ARTE, prolongación de la selva de nuestras venas, que se esparce fuera del cuerpo, en el infinito del espacio y del tiempo...]  
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Em tempo: no final da tarde o primo do mendigo K., estava encostado numa das pontes da cidade e de braços dados com a acompanhante de aluguel que sempre leva nas viagens. Segundo ele, o custo benefício é muito mais conveniente. Ao me ver, atravessou a rua apinhada de gente e lançou na minha direção estas duas frases absolutamente fora de contexto: 1. O objetivo da vida não é a felicidade! Observe como o sujeito feliz é sempre um bestalhão... Ou vice-versa... 2. O grande erro de Marx foi ter apostado no proletariado. Se tivesse apostado na burguesia, o mundo hoje... seria outro!
 

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