quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

AS LÁGRIMAS VIRIS DO GENERAL...

Já entendemos que neste mundo chora-se por quase tudo e por quase nada. Na dor, na tristeza, no amor, no desamor, na nostalgia, no fim, no princípio, na raiva, na felicidade, na desventura e na aventura. Há lágrimas na verdade e na mentira, na mania e na depressão, na histeria da embriaguez dos puteiros e na da sobriedade dos claustros… Enfim, há lágrimas para todas as ocasiões e de todos os tipos: as exageradas dos poetas e as precárias dos presidiários, as de gelo dos mafiosos e as copiosas dos personagens angelicais e até mesmo as inconfundíveis dos crocodilos. E todo mundo sabe que até as músicas do defunto Wando não teriam feito sucesso se não fossem as calcinhas e as lágrimas e que a manipulação dos caudilhos e do catolicismo não seria a mesma se o mundo não fosse experimentado pelos rebanhos como “um vale de lágrimas”.

Pois bem, mas o que importa aqui é que o general Marco que até ontem comandava as negociações com os grevistas na Bahia foi substituído pelo general Enzo depois de ter derramado as suas ao receber um bolo de aniversário dos espertos baianos. Não apenas o Ministro da Justiça, os chefões do Exército e o Governador daquele Estado, mas até a própria Presidente Dilma – que costuma lacrimejar em público - entenderam que o choro do general foi, além de impertinente uma vacilada absurda -, fato que coloca em pauta o velho e histórico conflito e repugnância da humanidade pelas coisas úmidas, principalmente as lágrimas. Que uma mulherzinha chore, tudo bem – continua sendo pensamento unânime -, mas um homem!?, e ainda por cima um general fardado, parece uma das tresloucadas previsões maias!!! Será? Claro que nem todos pensam assim e que inclusive há os que acreditam até que os olhos não foram feitos senão para o choro.

Foi com o culto da Virgem – escrevia Flaubert – que a adoração das lágrimas chegou ao mundo, e que a piedade mariana contaminou a humanidade. Desde então não fazemos outra coisa a não ser perseguir um ideal rococó. A personalidade sentimental – continua – será aquilo que mais tarde fará com que a literatura contemporânea seja considerada pueril e um pouco tola. Somente sentimentos, só sentimentos, só ternura, só lágrimas. Musset também se indignava com essa lengalenga e principalmente com “todos esses amantes que sonham com barquinhos, com noites nos lagos, com cachoeiras, toda essa raça sem nome que não consegue dar um passo sem inundar-se de versos, de prantos e de livrinhos de lembranças”. Um tal Murger também citado na Histoire des larmes diz: “são predicações perigosas essas inúteis exaltações póstumas que criaram a raça ridícula dos incompreendidos, dos poetas chorões, cuja musa tem sempre os olhos avermelhados e os cabelos despenteados e todas as mediocridades impotentes que, fechadas sob o cadeado do inédito, chamam a musa de madrasta e a arte de carrasco”. Delacroix, avesso a todo sentimentalismo, melodrama e inundações de lágrimas de seu tempo declarava: “Esta é a escola do amor doente. É um triste modelo e no entanto as mulheres parecem ficar loucas com essas futilidades. Ainda sonham com declarações lacrimejantes e com apaixonados pálidos…” Será Charcot na Salpetrière e Darwin vagabundeando pelo mundo que irão dar explicações científicas para as lágrimas, só que neste momento estou sem saco para relatá-las.

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