quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Kim Jong-il e a problemática da morte.


Apesar da morte não estar no programa de ninguém, muito menos no dos chefões que lotearam, que gerenciam e que manobram o planeta com seus sete bilhões de aloprados, ela é com certeza a maior de todas as tragédias que podem acontecer ao sujeito, rico ou pobre, vagabundo ou cdf, beato ou descrente, jovem ou gagá, corrupto ou santo, gênio ou burro, animal ou anjo, fardado ou nu, de todos os partidos, de todas as religiões e até de todos os signos. Por isso talvez que nas tumbas dos defuntos quase nunca aparecem informações tipo: Vice-presidente do partido Liberal! Comandante Mor do Comunismo Planetário! Senhor Cinco Vezes da Direita Universal! Signo de Escorpião com antecedentes em Virgem! Pároco da igreja de Cristo Vivo! Grau 33 da Rosacruz! E da Maçonaria! Capitão da 12 Brigada! Ministro de todos os ministros! Representante de DEUS feito Carne nos cinco Continentes! Dona de todos os Bordéis da Segunda Quadratura! Febronio Índio do Brasil! Etc., A morte cospe e pisoteia com tanto desdém sobre essas titulações fajutas e sobre essas fantasias pueris e humanoides que os vivos, os sobreviventes e os que apenas esperam por sua vez, nem cogitam inscrevê-las nas lápides. Morreu, já era! Pode-se até fazer um teatro e usar o cadáver para anestesiar ainda mais as sinapses do populacho, mas é só teatro. O que de mais precioso há num corpo são os ossos. Duram, às vezes, até séculos. O resto se escafede no nada. Para onde foi Kim Jong-il? Esse baixinho invocado que cagava ordens do alto de seus tamancos e que quando nasceu, segundo a lenda, surgiram dois arco-iris por sobre ele e sua parteira? Como todos os outros, para o nada. Por sorte. Já pensaram como seria se a morte não fosse imparcial? Se os chefetes de merda obtivessem, através de alguma falcatrua, alguma forma de imortalidade?
Em alguma página desses milhares de livros que formam um paredão a minha frente Erich Fromm se pergunta: "Por que a maioria das pessoas não enlouquece diante da contradição existencial entre um EU simbólico, que parece dotar o homem de um VALOR INFINITO, e um corpo que vale aproximadamente um dólar?"


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