terça-feira, 29 de junho de 2010

Lolita, luz de mi vida, fuego de mis entrañas...

Esta semana não foi lá grande coisa nem por aqui e nem pelo mundo a fora. Os holofotes transitaram praticamente apenas dos campos de futebol africanos para os vilarejos nordestinos devastados pelas chuvaradas. Há mais de duzentos anos que os barões prometem arrancar os milhões e milhões de cativos fodidos que ainda agonizam na Idade Média, mas nada. Desviam para si e para outras sete ou oito famílias de ratos até o dinheiro destinado às calamidades. Quando vêem que se arma uma tempestade lá por sobre o mar ou lá por sobre a terra petrificada, ficam excitados em suas Casas Grandes e vão logo se preparando para decretar “estado de calamidade pública”. E apesar dos otimistas, dos vaselinas e dos cínicos não há solução nem a curto e nem a longo prazo. Se um dia chegarmos a avançar, a dar mais meio passo no “processo civilizatório” será compulsoriamente, empurrados por oceanos de desgraças, de desatinos e de sofrimentos. Aqui no DF enjaularam o travesti que atacou com dentes e seringa as enfermeiras do SUS. Nove horas numa fila é mais do que suficiente para despertar a hiena que cada um leva hibernando dentro de si. Os trabalhadores da saúde mobilizaram-se imediatamente pedindo mais “segurança”, mas nenhuma “alma” deu um pio sequer a respeito das ignominiosas nove horas de espera... Pelo jeito as filas continuarão aqui e lá em todos os ambulatórios do inferno... Há décadas não se altera uma vírgula (para melhor) no universo da atenção aos doentes. E os índios continuam acampados diante do Congresso Nacional. Ouvi os motivos da boca de uma senhora cacique. Todos absolutamente irrefutáveis. E os partidos lançaram seus “homens” para as próximas eleições. A “ficha limpa” virou esperança e álibi. O populacho ingênuo não sabe que só os bobalhões e os principiantes deixam rastros, que só as moscas débeis é que ficam entaladas nas teias de aranha. Sinceramente, não há mais o que dizer sobre o assunto. Antes de fechar a janela releio em voz alta a frase máxima de Nabokov: [ Lolita, luz de mi vida, fuego de mis entrañas...]

Um comentário:

  1. Os feudalistas do Brasil, mesmo não só os nordestinos, fazem muito bem aquilo que foi cabido a eles. O sufrágio do pão e leite(já não é necessário o circo), a cada quatro anos, é tão simplista e carismático quanto os suseranos que detém a posse da máquina já há muito enferrujada e incoerente. O Estado é fraco, mas as pessoas são fracas. O discurso otimista é o mesmo naqueles que a cada quatro anos pintam a máquina definhante com novas cores, estrelas, martelos&machados, tucanos e outras mirabolâncias mais. Talvez o máximo que aconteça estará nas mãos de alguns discriminados do imbróglio estatal. Isso se, o Estado como cada vez mais abrangente, não acobertar e circuncidar esses espíritos com a admirável paternalidade que torna recíproca a benevolência disto que eles chamam de Estado.

    E disse Raulzito:

    "A civilização se tornou complicada
    Que ficou tão frágil como um computador
    Que se uma criança descobrir
    O calcanhar de Aquiles
    Com um só palito para o motor"

    Aqui em Brasília a vassalagem só é trocada em termos. E chega a ser tão mórbida que inverte a lógica tendenciosa que dá à Classe Mérdica valor intelectual e material suficientes para se ter uma opinião autônoma; ou será que não é essa a lógica? Por isso que talvez alguns politiqueiros saltitam ao ouvir que a Classe Mérdica vem aumentando no Brasil. É a média entre o estrume e a classe potencialmente consumidora, não necessariamente nessa ordem de ascensão, porque o que varia é só a maneira de se atolar.

    Quando a esperança morrer(essa é a minha esperança), o apodrecimento nefasto e avançado da sociedade vai, no mínimo, exalar o odor pútrido que espantará os bem aventurados(esse é o meu medo). Se não pode contra eles, se afaste deles.

    Enquanto isso não acontece uns se divertem com a copa, outros com as eleições, outros com a desgraça alheia, outros com o dia do pagamento. E a masturbação de mentes é cada vez mais eficiente.

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