sábado, 12 de setembro de 2009

Uma visita de cortesia ao Sertão e ao Conselheiro 2


As quatro da manhã começa a cantoria dos galos aqui no sertão. Um deles tem o canto tão vigoroso que parece estar em baixo de minha cama. Assim que lhe acaba o fôlego vem logo a réplica, de outro, tão potente quanto, que me dá a impressão de estar sobre o guarda-roupas. O da casa vizinha responde ao canto que vem lá dos galinheiros de Bedengó, que por sua vez desafiam os de Belo Monte. E só quando o sol começa a amarelar a caatinga é que esses putos silenciam. No fundo da represa, jaz a velha Canudos, submersa e morta.

Nem mais os ossos dos fanáticos combatentes, o que não significa que Antonio Conselheiro não sobreviva por aí, nos gens e no imaginário da turba. O quê deve ter acontecido na cuca daquele maluco quando decidiu encher o sertão de igrejas e de cemitérios? Dizem que pensou até em reconstruir o Templo de Salomão aqui no meio das baraúnas e dos marizeiros, uma réplica daquele de Jeruzalém, só que com um jardim suspenso cheio de cabeças-de-frade, facheiros e de palmatórias-do-inferno. E não pensem que seus seguidores se dispersaram completamente. Hoje mesmo cruzei com uma mulher quase etérea que jurou-me estar no rastro da “Pedra do Conselheiro”.

Pedra do Conselheiro? Seria algo como o Santo Graal dos indigentes? Não soube responder-me. Pelo menos em um ponto me identifico com as idéias daquele andarilho alucinado: a República – pregava ele - é a mulher prostituta mencionada por João no Apocalipse.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. certa vez, eu passei por estas bandas de 'belo monte'. e para minha surpresa, tive a oportunidade de encontrar essa 'pedra do conselheiro'. ela estava no meio do feijão que eu estava comendo em uma vendinha daí. chegou a quebrar um pedaço de meu dente. a cuspi longe. pena que ela desapareceu na eio da poeira. ah, se eu tivesse a encontrado novamente... eu teria meu dinheiro de volta.

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