sábado, 15 de agosto de 2009

Não aponte esse dedo sujo em minha direção!

Mesmo com o risco de que venha a reduzir a população do planeta pela metade, a gripe suína vem desencadeando pelo menos um benefício ao processo civilizatório: o costume de se lavar as mãos. A certeza de que nos restaurantes, nos bares, nos hospitais, nas bibliotecas haverá, daqui para diante, um fio de água e uma gota de sabão para essa prática será um legado imenso para aqueles que sobreviverem.

Que estranha afinidade essa espécie parece ter com a imundice! Qual é, afinal, a dificuldade de limpar-se essa dezena de dedos se até o pernóstico Pilatos, lavou os seus antes de autorizar que pendurassem o nazareno?

- Não aponte esse dedo sujo em minha direção!

Gritou o nobre senador X para o nobre senador Y. Sujo de quê? Foi o que todos os ingênuos eleitores ficaram pensando. E essa frase parece ter sido tão dolorosa e tão implacável que o apontador sentiu-se na obrigação de retrucar qualificando o apontado de cangaceiro de terceira categoria. Uma nação de mãos sujas?

Mas como mantê-las limpas se estão fuçando o tempo todo por buracos, regiões e por territórios obscuros? Trate-se das delicadas e inúteis dos padres e dos intelectuais, das calejadas e escravas dos trabalhadores ou das esquivas e rápidas dos batedores de carteira, todas parecem ter sujeiras, movimentos e curiosidades próprias. Também parecem ter olhos, sentimentos, intestinos, voz e estômago. Não é por acaso que incorporam porcarias de todos os gêneros e de todos os tipos em suas porosidades. Os antigos feiticeiros identificavam nelas pontos análogos a cada um dos outros órgãos do corpo e a cigana, em seu oráculo, insiste que pode perscrutar o destino de cada um através de suas linhas.

Ezio Flavio Bazzo

2 comentários:

  1. sim, as mãos humanas. se vangloriam por possuirem polegares opositores. no voto de castidade assumem uma autosuficiência sexual. com digitais para ninguém conseguir escapar da polícia. na pancadaria tornam-se armas. tanto na política mal-caráter quanto na dormência ou parcimônia popular, sublimadas são higienizadas tal como consagradas por pôncio pilatos.

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