
Ezio Flavio Bazzo
Nesta quinta-feira, antes das sete da manhã, lá estava o homem da máscara e das luvas brancas a minha espera. Achei que iria falar da gripe suína e do sucateamento dos hospitais, mas nem sequer me cumprimentou e foi logo vociferando: Que tal o Conselho de Ética? Quê despreparo! Quê atestado de incompetência generalizado! Que ignomínia! Quê asco ver aquele bando de engravatados dando corpo a uma mísera solenidade de bufoneria e a um tosco Tribunal de Impotência! Ninguém sabe nada! Ninguém consegue formular sequer um pensamento e muito menos uma tese. Aquilo perderia feio não apenas para os obscuros tribunais da inquisição, mas até mesmo para as querelas dominicais das meninas da zona de Planaltina. E isto, que são todos “bacharéis”, “juristas”, “criminalistas”, sujeitos de “reconhecido saber” em seus feudos. Somos um país essência e irresponsavelmente gerontocrático! Uma república de velhos, de cassados e de suplentes! E é impossível “encontrar entre nós um homem absolutamente notável que não seja cabotino”. Apesar do ufanismo ingênuo de alguns, caminhamos para uma sociedade de terceira ou de quarta categoria. A astúcia por um lado e a culpabilidade lusitana por outro lesaram gravemente nosso caráter e nosso Sistema Nervoso Central. Vendemos-nos por uma caixa de charutos, temos problemas graves com a linguagem, sacrificamos sistematicamente a ética em nome do moralismo e nossa imaturidade é tamanha que, mesmo aos setenta ou oitenta anos seguimos fazemos questão de insinuar e tagarelar que somos refinadissimos malandrins, com a alma no bolso e o risinho da cavação nos lábios. Sabemos há décadas – como escrevia João do Rio – que o trabalho honrado não dá fortuna a ninguém e que se não nos esganamos fisicamente, nos esfaqueamos e nos assassinamos moral e monetariamente a cada instante. Como era de se esperar, o mais bandido, o mais cruel, o mais patife é quem vence. E é a essa pantomima nojenta e a esse embuste que se insiste em chamar de República.
Disse tudo isso num fôlego só e antes de retirar-se, corrigiu parte da declaração que havia feito ontem: a terra não é o play-ground, mas a privada do diabo!
Ezio Flavio Bazzo