domingo, 5 de julho de 2009

Decididamente, je ne suis pas votre frere

Ontem voltei a assistir a movimentação no Senado. Desta vez fui mais prudente e, antes de colocar os pés naquele antro, ingeri 25 gotas de Atroveram Composto. É repugnante ver a suposta “esquerda” de ontem se humilhando, fazendo conchavos com bandidos e se esmerdeando toda num esterqueiro de adjetivos covardes para não perder o poder. É indescritível o sentimento que se tem ao ver um bando de pequenos e disfarçados trapaceiros fazendo apologia uns dos outros e de vez em quando até cacarejando a respeito do golpe em Honduras. Os lingüistas aprenderiam muito presenciando o uso que aqui se faz da linguagem e mapeando o território esquizóide que há o entre o texto e o gesto, entre a palavra e o afeto. Depois de ouvir a cada um que ia à tribuna, minhas entranhas todas resmungavam: je ne suis pas votre frere. Abandonei o recinto mais tentado a gargalhar do que outra coisa. Ao invés de invocar perversa e puerilmente a Deus na abertura de cada sessão, - atravessei o estacionamento pensando - seria muito mais cômico que aqueles 81 infelizes recitassem em voz alta este fragmento do velho Calvino: [O coração humano possui tantos interstícios em que a vaidade se esconde, tantos orifícios em que a falsidade espreita, e está tão ornado de hipocrisia enganosa que ele com freqüência trapaceia a si próprio]

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. o que esperaríamos? o senado brasileiro foi criado ainda no império e inspirado na house of lords ("câmara dos lordes") da grã-bretanha. porque não lhe presenteemos com uma gunpowder plot ("conspiração da pólvora") tropicalista? um carnaval explosivo com a mistura de samba, suor e biodíesel. que alegria seria ver o temor do senado ao nos ouvir tramborilando caixinhas de fósforos e cantando:
    "lembrai, lembrai o cinco de novembro
    a pólvora, a traição e o ardil
    não sei de uma razão para a traição da pólvora
    ser algum dia esquecida "

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