terça-feira, 23 de junho de 2009

O zôo, essa penitenciária animal como centro terapêutico


Aqueles que estão cada dia se sentindo mais e mais deprimidos, angustiados, decepcionados e encolerizados com a bandidagem social e com as obrigações idiotas do cotidiano ou mesmo com o [sem sentido] da existência bem que poderiam ir sistematicamente ao zoológico. Meia hora diante do fosso das panteras pode mudar a vida de qualquer um para sempre. Àqueles para quem o prozac já não funciona, vinte minutos em silêncio num zôo encostados à gaiola do Pionus Menstruus poderia ser de uma importância inestimável. Àqueles que tentaram a Gestalt e a identificaram com as práticas presbíteras sentir-se-iam gratificados estando alguns minutos diante da gaiola dos Papagaios de Garbes. Aqueles que identificam na psicanálise uma réplica do Talmude conseguiriam compreender melhor sua estrutura mental narcisista com uma única sessão de minutos aqui diante do poleiro do Pavo Cristatus ou do Pavão Azul. Quem nunca compreendeu muito bem como funciona o tal do behaviorismo, ali diante dos ex-mamutes de circo não teriam mais dúvidas. Quem não encontrou consolo lá no confinamento do Budismo Zen pode surpreender-se (favoravelmente) estando uns instantes ali junto ao pátio dos jabutis. O canto estridente da Araponga (como se fosse uma marreta caindo sobre a bigorna) pode tornar os cânones lacanianos sobre a histeria bem mais palatáveis. Os Socós nos fazem compreender melhor e irremediavelmente os malefícios estéticos de nossa passividade e os macacos - sempre os macacos - podem ampliar descarada e exageradamente nossa tendência ao exibicionismo e à futilidade. Mas, apesar de todas essas terapêuticas [alternativas] é lá no fosso das ariranhas e nos compartimentos espelhados do serpentário onde o sujeito, sufocado pela urbe e por si mesmo, poderá ter o grande insight, tomar verdadeiramente consciência de tudo, principalmente, de seu próprio caráter.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. ah, certamente isso. o zoo refletindo nossa, fera, ou melhor, nossa besta enjaulada. a besteira imperiosa. nada daquela ladainha sobre poder animal interior. mas sim algo que mais se parece com a brochada dos ursos pandas que não conseguem mais trepar para garantir a sobrevivência de sua espécie. nem mesmo a graça dos chimpanzés mancos e fracos que trepam com todas as fêmeas do seu bando enquanto dois ou três machos alfa brigam entre si. enquanto isso a comunidade carcerária do zoológico assiste, com um sorriso irônico, seus irmãos humanos, animalescamente, se acotovelarem pelos míseros momentos de felicidade que antecedem a segunda-feira que se anuncia...

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