sábado, 16 de maio de 2009

Minha compreensão da arte é igual a de meu cachorro


Quando o guarda apareceu afoito eu já havia clicado e a foto da Senhora com faisões, de Iliá Machkov, 1911 estava feita. Jurei não ter visto a proibição no umbral de entrada e ele, jurou-me que acreditava piamente em mim. Como diria Lautrèamont: cada um reconheceu no outro sua própria degradação.

Quem nunca foi ao Museu Estatal Russo de São Petersburgo pode vir agora aqui na beira do lago bisbilhotar parte de seu acervo, estas 123 obras da Vanguarda Russa. Diz a curadora que se trata do que há de mais importante no mundo do Não-Objetivismo, do Supramatismo e do Construtivismo. Para mim, aliás, essa nomenclatura é tão volátil e tão incompreensível como o Mistério da Santíssima Trindade. De cara se percebe que o velho Chagall – com seu Promenade -, mereceu um lugar especial na galeria. Do famoso Kandinski, só roubaria uma telazinha de dois palmos quadrados intitulada: Igreja Vermelha. Entretanto levaria para casa além de Os dois camponeses, de Natalia Gontcharova (1911), o Barbeiro, de Lariónov (1907). Atrás dos que admiram a tela de Lariónov, está outra preciosidade de Filip Maliávin: Verka, 1913 e no final do circuito a melhor de todas, intitulada Mãe, 1915, de Kuzma Petrov-Vódkin. Como minha compreensão de arte não é diferente da de meu cachorro não restam dúvidas de que minhas preferências foram rastreadas e identificadas por puro instinto, o mesmo instinto que me autorizaria a condensar (sem culpa) as 123 em apenas sete.

Ezio Flavio Bazzo

2 comentários:

  1. Temos que reconhecer que seu cachorro é um erudito, e o que é melhor, ele é sincero.

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  2. o que seria da arte sem a ortodoxia religiosa como seu reflexo no espelho? tudo o mais seria artesanato, heresias anônimas, sem as pretensões ao sagrado afirmadas pelos miseráveis vendedores de brincos nos butecos. se a arte renunciasse à idéia de um outro mundo, jamais alguém seria artista, todo o prazer seria conseguido apenas neste mundo. ezio, que seu cachorro não agrida ou destrua o mundo da arte, mas sim cometa o que há de pior para este: a humilhação.

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