sábado, 25 de abril de 2009

Guimarães Rosa e seus fanáticos mistificadores


Quem for à Biblioteca Central da UnB, ao entrar no saguão principal se deparará irremediavelmente com uma das mais esdrúxulas e anômalas frases de Guimarães Rosa escrita na parede branca de fundo. O funcionário da noite vendo-me ali visivelmente embasbacado lendo e relendo aquela bobagem, ofereceu-me uma caneta para que a copiasse em minha agenda recordando que - o mistificador e mistificado em questão - a havia escrito lá em seu Sertão e Veredas:

“Ali nem acabei de falar, e em mim eu já estava arrependido com toda a velocidade”.

Entendeu alguma coisa? Não?

Vou repeti-la:

“Ali nem acabei de falar, e em mim eu já estava arrependido com toda a velocidade”.

E agora? Entendeu alguma coisa?

Um estudante de zoologia que parecia estar sentindo mais ou menos a mesma indisposição e aversão que eu diante daquela locução, assegurou-me sarcástico: - Se eu fosse o Reitor desta universidade convocaria de imediato, não apenas o chefe da Biblioteca, mas inclusive o fraseador para explicarem-se.

Ezio Flavio Bazzo

3 comentários:

  1. Ele quis dizer: me arrempendi de ter começado a dizer alguma coisa. É que sendo poliglota e auto didata, desenvolveu uma forma muito pessoal de expressão. Quem conhece Guimarães Rosa sabe e sabe também que é um escritor fantástico, eu diria, genial mesmo! É claro que apanhar uma frase assim, fora do contexto e colocá-la numa parede é sandice e o que entristice é que aqueles que não conhecem o escritor nunca vão querer conhecê-lo.

    ResponderExcluir
  2. que alívio, essa frase barroca e de causar labirintite ter sido escrita na parede de uma biblioteca. com "toda a velocidade" de um relâmpago, ela ilumina "ali nem acabei de falar, e"... záz! quem tem vigor de ação, coragem abismal, idéias voluptuosas e paixões insurgentes a se afastar rapidamente deste covil sombrio de morcegos fetichistas por páginas.

    ResponderExcluir
  3. Essa frase ficou uma merda.


    Joga tinta!

    ResponderExcluir