sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A rameira número quatro do Cazaquistão


As recentes declarações do escritor Paulo Coelho afirmando solenemente que ele é o intelectual mais importante do país deixou muita gente encolerizada. Os professores-doutores que ao longo de suas carreiras não conseguiram vender mais de uma centena de suas obras; os poetas que penhoraram suas casas para editar suas inapreciáveis obras; os eruditos que década após década vieram dormindo sobre pergaminhos e enciclopédias assim como centenas de outros presunçosos estão em pavorosa. Como é possível tanta impudência e tanto descaramento! Perguntam-se entre eles. Houve até quem declarasse recentemente que ser o intelectual mais importante deste país é mais ou menos como ser a rameira número quatro do Cazaquistão. Tudo bem! Mas como esquecer os cem milhões de livros vendidos? Como ignorar os palacetes? As grifes? As condecorações? As ruas, os coctéis e os templos que levam o seu nome? E o pior: os trezentos milhões de dólares em dinheiro vivo em sua conta bancária? Digam o que quiserem os ressentidos e os invejosos, mas para mim, o Paulo Coelho fez para a filosofia e para a sociologia o que nem um outro intelectual foi capaz: demonstrou com sua obra, sem grande esforço (e na prática) que a espécie, a humanidade, as pessoas em geral são alienadas, torpes, fúteis, repugnantes e que só adoram e consomem aquilo que se lhes assemelha.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. eruditos e outros coveiros estão mesmo no inferno de dante, onde o domingo acena, sem nunca chegar, os condenando, assim, à eterna sexta-feira. não escrevem por necessidade visceral ou mesmo por que há coisas impossíveis de não serem ditas. escrevem como astutos engenheiros de citações. nada mais. cavam e enterram idéias que antes eram perigosas. nem eles suportam ler uns aos outros. já paulo coelho se encontra em um inferno espelho do dos eruditos, aqui a semana acena, sem nunca chegar, e a irritante e desoladora música de introdução do programa fantástico da rede globo, o condenando a um eterno domingo. daí lhe resta escrever para hávidos visitantes de zoológicos, para espectadores compulsivos por faustão e sílvio santos, para a peble que ascende à classe média lotando as filas do cine academia ou no ccbb, até para alguns bebedores inveterados entorpecidos pelo "brasileirão". porém, tanto eruditos quanto paulo coelho falam sem nada dizer, dizem sem dizer e ainda recusam a dizer mesmo tentando dizer. meras nuancias do mesmo niilismo passivo da linguagem.

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