quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Da surdez para a mudez


Num país onde tradicionalmente ninguém escuta ninguém e onde há uma surdez generalizada de séculos é compreensível que um caso de ESCUTA cause tanta apreensão e tanto mal estar. Se for a ABIN, algum técnico do exército, a polícia federal, um expert da polícia civil, a milícia do Senado, algum vigia do Congresso Nacional, a dupla Cosme e Damião ou mesmo um capanga dos próprios senadores o autor dos "grampos", isto não tem a mínima importância diante da pergunta: qual é, afinal, o sentido de tanta polícia e de tantos agentes de repressão? Além disso, é esperteza e romantismo malicioso querer dar ao caso uma conotação político-ideológica, uma vez que a esquerda e a direita se escafederam há muito por aqui e que uma vez no poder todo mundo vira ambidestro. Até as crianças sabem que o que determina a lateralidade de nosso homem público " e, evidentemente, o interesse dos tais arapongas " é apenas as porcentagens relacionadas aos grandes contratos e as propinas milionárias surrupiadas das mega transações econômicas. Por fim, se a nação for dar ouvidos ao conselho do chefe da ABIN - de calar a boca - estará sendo promovida de surda, para surda-muda. Situação ideal para qualquer gerente de tirania.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. bem lembrado: "qual é, afinal, o sentido de tanta polícia e de tantos agentes de repressão?". é aterrorizador pensar como utilizam tal excesso. com a abertura de 1984 o que aconteceu foi apenas a passagem da ditadura militar para a ditadura civil. o antigo quadro de funcionários do extinto cni é ressucitado na nascente abin. a liberdade de expressão é conquistada, porém a liberdade de ação é terminantemente proibida, até para se fazer uma manifestação deve-se comunicar às autoridades, pois a pm deve fazer um cordão de isolamento, para a segurança da sociedade. aqueles que faziam lobby junto aos militares, hoje o fazem com os civís no poder. treinamentos de tortura nunca foram desperdiçados. que o digam a população das periferias. quem ouvir alguma coisa... o famoso "telefone" nas orelhas. quem falar algo... que não seja contra o estado onipresente e onipotente. quem agir de modo autodeterminante... ah... tropa de elite em seus calcanhares. e o livro oculto da tirania brasileira continua a ser escrito...

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